23 de dez. de 2014

Hasta luego, mi amor.

Postado por AnaBaú às terça-feira, dezembro 23, 2014 0 comentários
Bordeaux, 23 de dezembro de 2014,

Ao amor da minha vida.

Você chegou até mim como um raio solar iluminando minha escuridão. Um sorriso de semideus eu costumava dizer. Uma doçura inigualável, gentil, criativo, brincalhão. Quando nossos olhos se encontravam faíscas poderosas saíam, nós fomos potência, eu sei.
Muitas coisas aconteceram nesse ano, passamos por discussões, distanciamentos, mas retornávamos com mais força, outras nem tanto. Eu lhe disse em algum momento que sentia que nosso distanciamento era inevitável, lembra? Você disse que eu era importante na sua vida e que você não gostaria de viver longe de mim. Então eu prometi que não lhe abandonaria, mesmo sabendo que eu iria.
Um dia após uma longa viagem você confessou que havia encontrado o amor da sua vida, mas que eu sempre seria insubstituível na sua vida, e então passei a te ver nos horários que sobravam. Os dias e as noites passaram a ser dele, hora estudando álgebra com ele, horas namorando via Skype, as minhas horas já não me pertenciam.
Até que você disse que não poderia mais suportar a distância, tornava-se violento quando ele desaparecia, precisava tê-lo o tempo todo e eu senti que não era mais tão essencial na sua vida. Em uma manhã qualquer você disse que estava se mudando para São Paulo e foi sem despedidas.
Eu sabia que você estava indo embora de mim, amor.
Eu sabia que aquela era a nossa última semana juntos.
Eu sabia que a nossa história estava com os dias contados.
Eu sabia e te avisei, lembra?
Você disse que era bobagem, coisa da minha cabeça.
O coração nunca mente, amor. Ele sabia, sempre soube.
Já faz um mês que você se foi e nossas conversar se tornaram um "Oi, tudo bem e as novidades?"
Há somente um eu e um você, nós nos dissolvemos nas nuvens enquanto você voava em direção ao seu amor.

Hasta luego, mi amor.
Adiós, ya no hay nada.

Expectativas.

Postado por AnaBaú às terça-feira, dezembro 23, 2014 0 comentários


Gostaria de dizer que te amo, mas é improvável que eu o sinta. Afinal, o que é que sinto verdadeiramente? Ausências.
Ontem nossos olhos se encontravam e sorriam,  nossos corpos estavam próximos sentindo cada relevo um do outro, a textura, o calor, a umidade, o sabor. Ontem não existiam empecilhos para que pudéssemos viver intensamente, não havia contras, não havia nada entre você e eu, mas hoje não sei dizer o que aconteceu, você não apareceu.
Hoje nossos olhos já não se encontram e meus lábios já não sorriem, nossos corpos estão distantes e frios, não há calor, não há um sinal sequer de presença. Hoje não existem razões para estarmos juntos, penso eu. Gostaria de ouvir da sua boca que já não existe um nós, apenas um você e uma eu.
Queria sentir aqui, sua lembrança viva pulsa em mim, ela não consegue ver que esse é apenas um fantasma seu. Diga-me porque já não me quer, diga onde falhei para que eu possa melhorar, diga-me porque os nossos corpos esfriaram. Eu sei que falhei, ajude-me a melhorar.
Você não sabe, mas eu costumo lutar até o último instante, para ter certeza de que se acabou não foi por volta de insistência, não foi por falta de interesse da minha parte. Só diga que não há mais espaço pra mim na sua vida e me liberte. Eu já me acostumei com as ausências, não sei porque acreditei que desta vez seria diferente.

Sobre um estado de preservação.

Postado por AnaBaú às terça-feira, dezembro 23, 2014 0 comentários
Eu tenho 20, quase vinte e um.
As vezes penso que até aqui vivi uma vida de boneca de plástico. Uma daquelas bonecas que raramente é retirada da caixa e que fica em um lugar destacado da casa para que todos vejam.
Não me lembro quantas vezes eu caí ou me machuquei, algumas vezes resvalei na estrada de chão ou no banheiro cheio de espuma, nada sério.
Nunca corri grandes riscos, nem vivi grandes emoções, sempre cultivando um estado imaculado de vida. Ano após ano, cada movimento milimetricamente planejado, cada palavra colocada com perfeição em cada sentença, a voz baixa e pausada, uma vida de papel.
Um dia cansei daquele reflexo, daquela vida e daquele eu que não me pertencia. Pintei o meu cabelo imaculadamente cuidado por todos aqueles anos, peguei uma tesoura e fiz o meu próprio corte, experimentei novos corpos, fui experimentada, li novas coisas e escrevi outras.
Apesar de todas essas mudanças, as vezes quando me olho no espelho sinto-me novamente na minha caixa. Evito andar pelas ruas e fujo dos olhares curiosos. A boneca saiu da caixa, mas seus admiradores continuam a tratá-la como se não tivesse vida.
Anos se passam, muitas coisas mudam, mas esse estranho sentimento me acompanha. Há horas em que desejo destruir qualquer vestígio de boneca que reste em mim. Há dias que quero esquecer de tudo o que fui. O que me tornarei nesse próximo ano? Será que algum dia romperei com esse estado de preservação?

19 de dez. de 2014

O Porão.

Postado por AnaBaú às sexta-feira, dezembro 19, 2014 0 comentários
- Oi. Cheguei. Estava pensando em lhe ver na quinta-feira, o que acha?
- Ótimo, estou com o dia livre.
- Combinado então. Sairei daqui bem cedinho.
- Onde nos encontramos?
- Vemos amanhã. Beijo
- Beijo.
Respirou fundo e começou a sorrir mergulhada em lembranças. Lembrou do primeiro encontro, o frio na barriga, a meia-calça rendada que rasgou, o sapatinho. Sorriu. Lembrou do segundo encontro, do hotel, das conversas, dos risos, da massinha de modelar, os incensos e as roupas de cama brancas. Sorriu, sorriu, sorriu, o rosto dela iluminava-se com qualquer vestígio de lembrança, logo os cheiros e sons tomavam-lhe a cabeça e ela ria.
Tirou todas as roupas da cama, a capa do colchão, os lençóis, as fronhas, mergulhou-os em um amaciante de rosas e deixou-os  secarem madrugada a dentro. Bateu-se a noite toda, virava-se na cama, trocava a ordem dos travesseiros, notou que o celular já marcava seis horas da manhã. Sentiu-se preguiçosa, virou-se na cama, descansou os olhos mais um tempo, até que a ansiedade tomou conta dela e resolveu levantar.
Colocou uma camisola, saiu lá fora e recolheu as roupas do varal, com os olhos inchados. Preparou café no micro-ondas e começou a organizar o quarto, colocou as roupas de cama cheirosas e macias e o quarto passou a cheirar a rosas. Olhou tudo aquilo e sorriu. Tomou seu café vagarosamente e ansiosamente, já eram nove horas e ele ainda não havia dado notícias, pensou em mandar mensagem, depois resolveu esperar.
Uma música qualquer estava tocando enquanto ela navegava na internet tentando se acalmar. Dez e quinze. Resolveu mandar uma mensagem: “Hey dear, onde você está?”. Meia hora se passou e ela não obteve resposta. Resolveu esperar. Esperou. Esperou mais. Resolveu mandar uma nova mensagem e percebeu que ela havia respondido. “Saindo daqui em meia hora”. Isso era o cedo que você disse que iria sair? Pensou. Ela levantou-se e começou a procurar algo pra vestir despreocupadamente, calculou que ele demoraria cerca de uma hora para chegar. Cinco minutos depois recebe outra mensagem “Estou aqui”. As pernas amoleceram imediatamente e o desespero, ansiedade, angustia, felicidade, tudo estava batendo naquele corpo. “Como assim chegou? Onde?”, o sinal estava péssimo e as mensagens não estavam indo. As roupas começaram a voar para todos os lados, nada era perfeito. Desistiu do penteado e foi com o cabelo solto. Ele estava no centro, ela demoraria mais meia hora para chegar até ele. Fechou a porta rapidamente e correu para o ponto de ônibus mais próximo torcendo para que tivesse algum naquele horário. Tinha, por sorte. Ficou totalmente sem sinal e o desespero bateu mais uma vez. Respirou fundo e tentou se acalmar e então voltou a sorrir, sorrir, sorrir, sentada sozinha no banco do ônibus, as vezes encontrava com o olhar de um outro alguém e se pegava sorrindo, tentava disfarçar mas o riso havia lhe tomado conta. Chegou no centro, aonde estaria ele agora? “I’m here, cadê você?”, ela estava morrendo de ansiedade, olhava em volta tentando reconhecer a silhueta dele por entre as decorações de natal da praça. Andou por todo lado, será que ele havia mudado tanto assim em um ano?
Uma nova mensagem. “Estou no café ao lado da praça”, ela apressou o passo e tentava encontra-los olhando através do vidro, entrou, não viu ninguém, até que seu sorriso encontrou outro bem ao fundo. Não conseguiu mais conter o sorriso, nem o sentimento, e transbordou amor. Os olhos brilhavam, o coração estava quente, ela estava plena. Abraçou-o longamente, apertadamente, sentiu o calor e a maciez daquele corpo aconchegar o dela. Sentiu-se segura e confortável e sorria, sorria, mirava-o nos olhos e sorria, não haviam palavras para aquele momento.
- Como você está lindo! – E sorrio novamente, acariciando-lhe o cabelo.
Ele também sorriu.
-Senta aqui do meu lado. Está com fome?
Ela sentou e pegou na mão dele.
-Não, estou bem.
- Vamos pra outro lugar então?
- Vamos.
Ela aguardou-o enquanto pagava a conta. E depois saíram andando de mãos dadas pela cidade. As pessoas pareciam estranham aquelas duas figuras andando de mãos dadas. Eles sorriam e brincavam sem se importar.
- Você mora longe daqui?
- Do outro lado da cidade.
- Vamos pra lá? Eu estou de carro.
- Vamos.
Ele ligeiramente abriu a porta do carro para que ela entrasse e ambos sorriram. Olhavam-se o tempo todo, contemplavam um ao outro sem palavras. Na metade do caminho resolveram passar no mercado e comprar algo para comer, a fome havia aparecido. Comprar um litro de cachaça e alguns salgados. No caminho ele comentou como a moça da padaria era linda, ela concordou.
Chegaram em casa e o sol estava muito quente. Sentaram no sofá, comeram os salgados que haviam comprado e continuaram se olhando.
- Depois que terminarmos de comer podemos ir sentar lá no porão, é mais fresco.
Ele concordou. Pegaram a cachaça e os copos, o maior para ele e o menor para ela. Carregaram as cadeiras de praia e foram para o porão. Sentaram um em frente ao outro. Fecharam os olhos e sentiram o vento soprando, os passarinhos cantando e novamente sorriram.
- Vamos beber? Me dá seu copo. – Disse ele.
- Só um pouco hein? Você sabe que sou fraca para bebida – Disse, estendendo o copo até ele.
Ele serviu os dois, menos de meio copo cada um. Sorriram.
- Ao que vamos brindar?
- Não sei.
- Vamos fazer uma brincadeira emocional?
- Ah, não sei se estou preparada para uma coisa dessas.
- O que você gostaria de agradecer nesse ano?
- A sua presença. – Olhou-o nos olhos e sentiu-se agradecida.
- Isso não vale. O que mais?
- Claro que vale, queria agradecer também às minhas conquistas, todas elas. E você?
- Queria agradecer a oportunidade de estar aqui hoje, à todas as oportunidades que tive durante o ano, de crescimento em todos os sentidos.
Brindaram e beberam.
- O que você gostaria de deixar nesse ano?
- As minhas limitações, aquelas que eu mesma coloco em mim, os meus medos. E você?
- As minhas perturbações, não que eu queira que elas desapareçam, mas gostaria que elas não afetassem tanto a minha vida.
Brindaram novamente e beberam.
- E o que você quer para o próximo ano?
- Ser ainda mais livre, ter coragem e força para realizar todas as coisas que tenho pra fazer com a qualidade que eu prezo, e um trabalho se for possível. E você?
- Peço saúde para todos nós, que a minha família consiga viver em harmonia, e que as pessoas encontrem aquilo que necessitam.
Brindaram e beberam. Ficaram em silêncio por um tempo, ouvindo os passarinhos e pensando nos pedidos que haviam sido feitos. Depois começaram a falar sobre a vida desde o dia em que haviam se visto pela  última vez, a faculdade, a vida, os sonhos pro futuro. Lembraram de todos os momentos bons que passaram juntos, celebraram aquele momento e agradeceram a oportunidade de estarem juntos novamente, se olhavam, sorriam e ficavam em silêncio. As palavras perdiam o sentido diante dos dois.
Quando se deram conta a noite já estava chegando, falaram sobre o pôr-do-sol, sobre as plantas que haviam em volta do porão, sobre aquilo que eles amavam, sobre os ancestrais, sobre a terra, sobre eles. A hora de ir se aproximou sem aviso, veio repentina e roubou-lhe metade do dia. Não sorria mais. Calou-se. Ele sentiu o sofrimento nos olhos dela. Abraçou-a longamente tentando confortá-la.
- Não fique assim, pequena. Nos veremos em breve, voltarei antes do que você imagina.
Ela suspirou fundo, com pesar. Queria que ele ficasse pra sempre.
- Tudo bem – E abraçou-o com força.
Não chorou e tratou de segurar seu coração quieto no peito. Mas a voz não saiu mais, nem o sorriso. Contemplou-o o tempo que pode para imortaliza-lo na memória. Pediu uma foto. Tirou duas. Ela precisava olhar para elas e sentir que tudo havia sido real. Abraçou-o, não queria que ele entrasse no carro. Suspirou sentindo seus ossos contra o peito dele. Queria ficar assim pra sempre. Ele precisava ir.
- Amo você.
- Eu também amo você, menina. Até breve.
O carro se afastou lentamente. O coração ficou quieto, a respiração tornou-se superficial. O amor ainda inundava-a e ela permaneceu em silêncio. Entrou e fechou a porta e permaneceu assim até o dia seguinte.
Sentiu que o porão a chamava e no final da tarde foi até ele. Quando sentou-se, em seguida sentiu que ele havia ido, mas deixara algo dele lá. Deixou de se sentir só e sabia que para encontra-lo bastava ir até o porão e sorrir.


15 de dez. de 2014

Postado por AnaBaú às segunda-feira, dezembro 15, 2014 0 comentários
“Nós ensinamos as meninas a se retraírem para diminuí-las. Nós dizemos para as garotas: você pode ter ambição, mas não muita. Você deve ser bem sucedida, mas não muito. Caso contrário, ameaçará o homem. Porque eu sou uma fêmea, esperam que eu deseje me casar, esperam que eu faça as minhas próprias escolhas na vida sempre tendo em mente que o casamento é o mais importante.
O casamento pode ser uma fonte de alegria, amor e apoio mútuo, mas por que ensinamos às garotas a aspirar o casamento e não ensinamos a mesma coisa aos meninos? Educamos as garotas a se verem como concorrentes, não por emprego ou por realizações - o que eu penso que pode ser uma coisa boa -, mas sim pela atenção dos homens. Nós ensinamos as garotas que não podem ser seres sexuais da mesma forma que os garotos são.
Feminista: a pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos.” 
Chimamanda-ngozi-adiche

14 de dez. de 2014

Madrugada.

Postado por AnaBaú às domingo, dezembro 14, 2014 0 comentários
Madrugada.
 As ruas vazias, a luz dos postes, o nevoeiro. Eu não sei qual deles quero ser.
Silêncio.
Os olhos estão vazios como as ruas, não há mais luz, nem dia, apenas nevoeiros e madrugadas.
Temor.
O que temo eu nesta história toda?
Não se pode temer a ausência quando se está preenchida por ela. O que temo é a presença.
Temo olhar para o lado e encontrar outro olhar. Temo a ideia de que haja uma mão sobre a minha.
Mas temo ainda mais a ideia de não poder ir embora.
Partir. Talvez esse seja o real sentido por trás da existência.
Hoje estou nessa rua vazia, amanhã sou apenas lembrança. Não há espaço para grandes malas, ou emoções, ou lembranças, ou cartões postais.
Mas há um coração que ama, ama e deixa, por temer a união. Amar é um momento de contemplação.
Quando você toca o que ama ele se desfaz.
Diga-me, afinal,
Porque desejas tanto segurar minha mão?
Eu não tenho nada a oferecer, a menos que você espere um elogio. Tens uma mão delicada, com linhas suaves ou então mãos grandes e ásperas, que lhe pertencem.
Nada do que é seu me pertence, nada do que é meu lhe pertence. Não me dê algo que não peço,
Mas não me diga que não posso recusar algo que não conheço.
Se queres me dar algo, dê-me fé. Plante uma esperança perto de mim.Para que eu possa partir sabendo que ficaste acompanhado.
Não me ofereças seus lábios, muito menos seu coração.
Como poderia eu partir em paz carregando algo seu comigo?
Se desejar me beije, mas saiba que este pode ser o beijo da traição. Sua princesa pode se transformar numa bruxa má.
Entenda que não falo de sentimentos. Entenda que não espero nada de você. 
Eu só quero partir, ser parte desse nevoeiro que me tranquiliza. Ser algo que se desintegra e volta ao estado natural.
Não posso lhe dar o que espera de mim. Sem ao menos saber o que posso oferecer.
Passe por mim e não me veja. Passe por mim e pense que lembranças desaparecem.
Eu nunca pedi pra você me amar. Você que não entendeu.
E agora eu parti. Não sinto nada.

Adeus.
Postado por AnaBaú às domingo, dezembro 14, 2014 0 comentários
Hoje eu resolvi deixar a porta fechada. Você vai passar e pensar que não há ninguém em casa.
Tudo o que se houve aqui dentro é o barulho da torneira pingando, da água escorrendo e alagando o chão. O vento que faz as janelas tremerem. Mas não nenhum sinal de vida meu aqui.
Você vai bater palmas, abrir o portão, espiar pela janela e não vai ver que continuo aqui. Você pode até chamar meu nome, mas eu não irei responder. Eu vou ficar em silêncio até não ouvir mais os seus passos.
Quem sabe você vá se perguntar  “O que eu fiz de errado?”, mas isso não diz respeito à estar certo ou errado, meu amor. Isso diz respeito à minha incapacidade de deixar alguém me amar, essa incapacidade de ter alguém ao meu lado pra dizer “me sinto fraca” ou então pra fazer dengo de manhã só pra receber café na cama.
Você não sabe, mas eu tenho medo de acordar um dia e não saber mais quem eu sou. Eu sei ... Eu sei ... podemos ser melhores juntos, mas e eu? Como fico nessa história? E se um dia tudo isso acabar e você me levar de mim?

Suspiro aliviada quando olho pra porta e percebo que ela ainda está fechada. É melhor assim. Você vai encontrar alguém melhor pra você, talvez ali na esquina, talvez a moça que irá lhe pedir informação. Continue andando meu amor, a porta não se abrirá e a água continuará pingando aqui dentro.
Postado por AnaBaú às domingo, dezembro 14, 2014 0 comentários
Chove outra vez. O interior é inundado por uma mistura de saudade, amor e tesão.
A chuva escorre procurando por você, pelas ruas e córregos vai correndo, como se chamasse o seu nome.
Eu me perfumei como a primavera para esperar você, mas você nunca vem. As minhas flores murcham e caem e você nunca aparece para juntá-las. Elas morrem e renascem para um você que nunca vê.
Só os seus lábios sabem despertar as minhas cores e o meu sabor. Poliniza meu interior e produz o mais saboroso e raro mel. Mas se você não vem, o que faço com tudo o que fica guardado aqui?
Chove outra noite. O aroma de poeira cobre as ruas, mas você não deixou pegadas. Hoje o vento soprou-me que talvez alguém esteja ao seu lado, florescendo para você. Talvez seus olhos verdes tenham encontrado outras esmeraldas em meio às flores e você já nem precise de mel. Do meu mel.

É madrugada e já passaram das três. A casa está em silêncio e vejo fantasmas através do vidro da porta. Eles também sabem que você não virá. 

Non, Je Ne Regrette Rien.

Postado por AnaBaú às domingo, dezembro 14, 2014 0 comentários
Alguém dentro de mim chora. Não há palavras, nem pensamentos ... as lágrimas escorrem como cascatas e os olhos estão tristes.
O que ontem era beijo, abraço e cafuné, hoje é tapa, mordaça e mordida.
O que ontem era uma pintura rejuvenescedora, hoje é um quadro desgastado que foi retirado da parede.
O que ontem era calor e aconchego, hoje é frio e distante.
O fogo que ontem aquecia e nutria, hoje incendiou todas as possibilidades de voltar para casa.
Não há mais caminhos, nem vias de retorno. O que ecoa em sua cabeça é o seu lema : Nunca retornar.
Eu ando para frente, sempre para frente, por mais que muitos pedaços tenham ficado para trás e as lágrimas que insistem em cair.
Ontem eu era eu. Hoje sou mais eu do que nunca.  Hoje eu já nem sei quem eu era, quando eu estou sendo um eu que não era ontem.

Non, Je Ne Regrette Rien, e continuo andando.
Postado por AnaBaú às domingo, dezembro 14, 2014 0 comentários

Ela é uma pirâmide
Mas com ele, ela é apenas um grão de areia


Ela era um furacão
Mas agora ela é apenas uma rajada de vento
Ela costumava içar as velas de milhares de navios
 , era uma força com que se podia contar
Ela poderia ser uma Estátua da Liberdade, ela poderia ser uma Joana d'Arc
Mas ele tem medo da luz que está dentro dela, 
então, ele a mantem no escuro


Ela costumava ser uma pérola,
Sim, ela costumava dominar o mundo
Não posso acreditar que ela se tornou uma concha de si mesma
Porque ela costumava ser uma pérola
 ...Ela é imparável
 ... Movia rapidamente como uma avalanche
Mas agora ela está presa no fundo de cimento.

Você sabe que há uma saída?
Você não tem de ser pressionada

Porque eu costumava ser um concha
Sim, eu deixava ele dominar o meu mundo, meu mundo
Mas acordei e cresci forte e eu ainda posso continuar
E ninguém pode tomar minha pérola
Você não precisa ser uma concha. Você é a única que pode dominar seu mundo
E você vai aprender que você ainda pode seguir em frente, 
e você sempre será uma pérola.
Ela é incontrolável.

(KATY PERRY - PEARL)



27 de out. de 2014

Recuerdos III.

Postado por AnaBaú às segunda-feira, outubro 27, 2014 0 comentários
Chove.
As gotas escorrem sobre mim e o meu corpo pinga.
Você se aproxima e o meu corpo estremece,
Teus olhos sobre mim chegam como uma ventania,
A tua língua marca no corpo o caminho dos raios,
Quer ouvir os trovões do meu desejo ecoando pelo céu da minha boca.
E o seu corpo pinga.
Escorre pela minha boca.
Brota de minhas entranhas como cascata natural.
Inunda meu ser com o seu líquido que agora é meu.
Aos poucos estamos criando uma nova estação,
Chuva, suor, saliva e gozo.
O ego está inundado, inebriado pelo mais suave aroma.
Escava em mim a sua gruta,
Faz de mim a tua morada,
Explora as joias enterradas.
Tira tudo de mim,
Rouba tudo o que eu tenho.
Chove em mim,
Molha a minha cara,
A minha vergonha,
O meu medo,
O meu desejo.
Esfrega com força e arranca o meu passado,
Agora eu sou tua terra, toda nua, tua propriedade.
Explora-me, revira-me,
Reivindica até que a minha boca se abra
E receba a chuva sagrada que só é armazenada em ti.
Chove em mim,
Me lambuza, me marca, me prende.
Me deixa pingar.
Postado por AnaBaú às segunda-feira, outubro 27, 2014 0 comentários
Orgasmos e lágrimas.
Foi tão lindo que parece mentira. Ontem você me deitava na cama e me fazia sentir a mulher mais desejada do mundo. Eu fecho os olhos e ainda posso sentir a sua língua quente passando pelo meu corpo e me arrancando arrepios. O rastro molhado, o hálito quente no meu pescoço, as suas mãos fortes, a sua cabeça entre as minhas pernas, os seus cabelos entre as minhas mãos, os nossos gemidos.
O meu olhar safado entre as suas pernas, as mordidas nas coxas, o cabelo que insistia em entrar na boca, os nossos risos, o modo como você me puxou para cima e me fez cavalgar pelas pradarias mais verdes que eu já vi. Com você eu fui cavalo indomado que corre em direção à liberdade.
A sua delicadeza e ao mesmo tempo firmeza, a forma como olhava pra mim e me fazia queimar de desejo e ao mesmo tempo acalmava os meus mares interiores. A sua boca na minha orelha, o seu gemido, o seu grito, o seu orgasmo, o meu deleite.
Como posso esquecer da forma como você me pegou pelos cabelos e me trouxe até você, como esquecer do seu cheiro na minha pele, do seu gosto na minha boca, da minha vida nas suas mãos. E o meu riso, ele nunca mais foi o mesmo sem você;
Desta vez é o meu orgasmo que invade o cômodo, lambuza a sua cara, a sua roupa, a sua alma. E sobre a minha pele correntes elétricas se misturam com terremotos marítimos, eu me agarro em você por pensar que não vou aguentar tanta intensidade. Desmaiamos.
Ontem eram orgasmos, hoje são apenas gotas salgadas que escorrem pela minha face. Se eu dissesse que eu estava completamente entregue à você, você retornaria e me amaria? Hoje não restou um orgasmo sequer, apenas lágrimas que apagaram um fogo que não acende mais.

Recuerdos.

Postado por AnaBaú às segunda-feira, outubro 27, 2014 0 comentários
"Apenas um beijo (cinco)/ Apenas um toque (quatro)/Apenas um olhar (três)/ Apenas um amor (dois)/ Um".
Há uma música ao fundo cantando “São precisos dois. Dois lados de uma mesma história. Não só eu, não só você” . Eu ouço enquanto espero você chegar. Quem seria louca o suficiente, pra ficar acordada até as três da manhã depois de um dia cansativo esperando você chegar? Eu, é claro. “Me espere sem nada” você diz. Aqui estou eu, nua, sentindo uma brisa fria passar pelo meu corpo, desejando que a sua brisa quente me faça evaporar.
Vem, me chupa pela última vez. Quero sentir sua língua quente e úmida nas minhas costas, nas minhas coxas, na minha boca. Suas mãos percorrendo o meu corpo, acariciando, apertando, esmagando, acalmando, acolhendo. Quero que me traga para o seu corpo e diga no meu ouvido “eu vou te fazer mulher, custe o que custar essa noite”. Hoje não tenho máscaras para tirar, meu querido. Venha e me pegue crua, nua, totalmente entregue às suas ordens, lembrando que esta é a ultima vez. Me faça gozar na sua cara, na sua boca, nas suas mãos para que eu não esqueça que um dia te pertenci. Permita que eu entre no paraíso uma vez mais, não me negue os campos do paraíso que só alcancei com você.
Talvez você não entenda porque esta será a última vez. Mas, ouça meu querido, enquanto eu lhe pertencer, não serei mais minha. A música continua “Encarei meus demônios, sim, paguei minhas dívidas, precisei crescer” e você foi quem me colheu verde no pé e esperou até que eu estivesse no ponto para aí sim me comer. Fez com que eu descobrisse a suculência, os sabores que carrego comigo, descobri que existem sementes em mim que podem gerar muitos frutos. Ouça querido, você não me fará mulher nesta noite, porque me fizeste mulher no instante em que despertou a seiva que há em mim. Por mais que você me faça sentir viva, eu sou minha, eu me pertenço. Você me apresentou ao seu paraíso, mas quem deve iniciar as plantações do meu próprio paraíso sou eu. Então vem, não demora, me chupa, soca em mim, me faz mulher, me lambuza com as suas sementes, que depois eu vou sair pelo mundo distribuindo as sementes que um dia pensei serem inférteis e que hoje podem produzir graças a você.
Obs: o texto faz referência à duas músicas: “Forbbiden Love” da Madonna e “It Takes Two” da Katy Perry.

23 de ago. de 2014

Postado por AnaBaú às sábado, agosto 23, 2014 0 comentários
Vejo que o tempo passou mas não consigo dizer com que velocidade. Há manhãs em que acordo e sinto como se estivesse congelada na história, vivendo de manhãs eternamente iguais. Há outros dias porém que é como se houvesse alguém novo em mim, cheio de vida e com os bolsos carregados de esperanças. Há dias em que só quero viver, experimentar na boca o gosto da palavra intensamente. Há dias que sequer me mexo na cama para não ter que sentir que ainda tenho uma pele.
Desde que comecei a escrever aqui muitas histórias nasceram e muitas histórias nasceram, isso me faz pensar que escrever é eternizar o movimento da vida. Como se cada palavra guardasse um sonho, um som que forma a mais bela das melodias, mas não há quem a toque.
Aqui estão os mesmos dedos de outrora, em outro teclado, em outro sonho, no mesmo corpo. Estariam as paredes ainda cheias de mofo? Ou esse cheiro que sinto é apenas a lembrança de que um dia tudo esteve pior?
E esse coração que ainda bate é o mesmo que bateu tão intensamente outrora? Esperava que tu pudesses responder essa questão para mim. Querido diário, tu és quem acompanha minhas angústias, minhas alegrias, medos, frustrações, agonias. Meus voos de libertação, minha carta de amor, minha condenação à prisão.
Olho-te demoradamente, percorro tuas páginas, leio teus títulos, tentando entender quem eu fui um dia para quem sabe entender quem é que está aqui, agora, escrevendo esse texto.
Bem, já não sei se fui um dia aquilo que verdadeiramente sou, mas seguirei tentando, e as tuas páginas serão a prova de que tudo foi real. Um dia.

16 de ago. de 2014

Sobre a brevidade da vida.

Postado por AnaBaú às sábado, agosto 16, 2014 0 comentários
Ela estava sentada em uma pequena mesa perto da janela, à sua frente estavam papel, caneta e uma pequena rua movimentada. Suspirou. Olhos entreabertos, faltavam-lhe forças para mantê-los altivos, as únicas forças que lhe restavam seriam usadas para escrever um bilhete endereçado à ninguém.
Suspirou outra vez. Não sabia por onde começar, talvez devesse iniciar pelo motivo que a estava impelindo a escrever a carta. Começou assim, “Talvez hoje seja uma das noites mais frias do ano, na rua à minha frente algumas pessoas andam demoradamente, enquanto outras andam rapidamente para fugir do frio. Eu seria uma das pessoas que andam demoradamente, iria apreciar cada fagulha de frio atravessando meu ser, congelando meus ossos e o meu coração. Deitaria no chão e deixaria lentamente que o meu calor se esvaísse, tornando-me apenas um corpo congelado no chão.
Querido papel, você é tudo o que me restou. Eu deveria estar rindo dessa situação, afinal você ainda é alguém, mas não estou. Fazem dias que meus únicos companheiros são as pessoas que passam por essa rua, e eu estive pensando sobre a minha curta vida. Não tenho mais que vinte e poucos anos e já estou demasiadamente cansada para continuar. Você pode pensar, mas você ainda tem olhos para ver, e força para segurar uma caneta, não há do que reclamar. A questão é que eu não tenho nada a perder. As pessoas viviam antes de eu aparecer, continuaram vivendo enquanto estive aqui e continuarão vivendo quando eu não mais estiver aqui. Quem sabe encontrem-no sobre a mesa quando vierem cortar a luz e água que não foram pagas, ou quem sabe interditarem a casa. Bom, pode ser que ninguém o encontre, mas isso não faz diferença, a questão é que você é o único que vai conhecer os meus reais motivos.
Eu sou como você, pálida e solitária, sem uma história para contar. E ninguém tem força suficiente para escrever histórias em mim, nem eu mesma. Mas o segredo que quero lhe contar não é esse, o segredo é que depois que você viveu tudo o que quis não há razões para continuar. Eu já não tenho mais nada a perder, a não ser entregar-me para a brevidade da vida, uma vida que bebi até a última gota, mas que já não me satisfaz”.
Garis encontraram a carta caída numa pequena rua movimentada. Nunca saberão o que houve antes ou depois, nunca saberão quem era a moça. Quem sabe nunca tenham a encontrado, porque ela nunca esteve perdida. Sem nome ou data, ninguém.

Meninos copiadores

Postado por AnaBaú às sábado, agosto 16, 2014 0 comentários
Sinto-me como uma ave presa no meio de outras milhões de aves, um menino-copiador que passa seus dias reproduzindo as obras centenárias. Mas se um dia a janela estivesse aberta, o vento poderia soprar tão forte que faria a tinta cair sobre o papel produzindo algo mais do que letras. Talvez nesse dia, o menino-copiador se desse conta de que ele também poderia se tornar um menino-criador. O papel então poderia se tornar o que ele quisesse, poderia mostrar o mundo dele e instigar os outros meninos-copiadores a serem meninos-criadores, poderiam então juntos produzirem desenhos, pinturas, escritos próprios, e o vento se encarregaria de enviar suas criações aos outros lugares do mundo, muitos outros meninos-copiadores que estivessem copiando, largariam suas canetas e poderiam criar também. Afinal, de que vale uma escrita maravilhosa, se ela morre na gaveta, no arquivo, no incêndio? Mas o vento não soprou naquela tarde, a janela não se abriu e a tinta continuou no mesmo lugar. O único movimento perceptível na sala, eram o mergulhar das canetas nos tinteiros, e a mão que fazia o delineamento no papel, mas ao fundo da sala o supervisor mantinha-se atento à qualquer movimento contrário do imposto. O que ninguém sabia é que um dia ele havia sido um menino-copiador também e que o maior desejo dele era que um dia a janela se abrisse e a tinta pudesse criar.

Sobre um amor que precisa ir.

Postado por AnaBaú às sábado, agosto 16, 2014 0 comentários
Eu estava com um post pronto, quando algo me disse que o nosso amor precisa ir. Eu sei que não há nada melhor a fazer do que escrever sobre nós para que possamos então ficarmos livres. Coincidência ou não, ao fundo Christina Aguilera canta “You lost me”, mas amor eu acho que nós não nos perdemos, ou apenas não quero acreditar nisso.
Peço que não chore, as despedidas não precisam serem tristes para serem verdadeiras. E por favor não queira me beijar, os seus lábios nunca foram meus… Eu ainda lembro do dia em que nos encontramos pela primeira vez. O seu sorriso de semideus não me deixou desviar a atenção, seus olhos eram esmeraldas que me cativavam ainda mais que o sorriso, e então começamos conversar sobre algo que não consigo lembrar e logo tivemos a sensação de estarmos conversando por toda uma vida.
Aos poucos fomos vendo o quanto nos parecíamos, a nossa infância cheia de fatos iguais, as mesmas dúvidas na adolescência, os mesmos medos, as mesmas teimosias, os mesmos erros… As vezes chegava a ser assustador ter alguém tão semelhante a mim em outro corpo. E assim fomos nos curando, você sempre me aceitando como eu era, e eu sempre te aceitando como você era, ambos tirando sarro da cara do outro pelos mesmos comportamentos.
Eu pude mostrar o pior de mim e esperei que você fosse embora, mas de repente parei e ri, o pior de mim era também o pior de você. Como isso poderia ser possível? Dez anos nos separavam e um instante nos unia.
- Ana, você ainda é uma adolescente.
Eu rio novamente, porque havia esquecido disso. E de repente olho pro espelho e vejo que nesses cinco meses que nos conhecemos, rejuvenesci cinquenta anos, me sinto leve e parece que posso alçar voo a qualquer instante. Estou mais forte, mais dentro de mim, mais confiante na pessoa que eu sou, porque você apareceu e me curou.
Mas amor, eu sinto que o nosso tempo está acabando. As minhas histórias de amor sempre acabam com alguém indo embora, e acho que já começamos a retomar nosso caminho. Eu já não sinto seu coração batendo dentro de mim, nem o calor das suas mãos, nem aquele brilho nos olhos que me hipnotizaram. Menino, eu não quero ser novamente a garota com o coração quebrado, e não quero que você seja mais um amor que veio e depois foi embora. Então proponho que dancemos essa música que toca ao fundo, sentindo nossos corpos colados, as nossas respirações ritmadas, sem nenhuma palavra. Vamos nos movendo lentamente para que esse momento seja eternizado e depois cada um pode voltar para a sua vida.
Amor, hoje eu preciso que você vá. Porque eu sei, eu sinto aqui dentro que enquanto você estiver aqui, eu não poderei encontrar um amor que venha e que possa ficar. Amor, você sabe que eu ainda sou apenas uma menina querendo ardentemente viver um amor. Nós vivemos algo mágico, mas você nunca pôde segurar minha mão.
Postado por AnaBaú às sábado, agosto 16, 2014 0 comentários
Lá estava eu, sentada ao lado da janela, admirando a paisagem e bebericando um café quente.
Resolvi escrever apenas deixando que a caneta deslizasse pelo papel, sem emoções explodindo junto com a tinta marcada. Escrever olhando para aquilo que não está contido nas palavras. O segredo, o mistério, o não-dito. Escrevo porque não posso falar, assim como o verbo, a música que não pode ser tocada para não perder o sentido.
Destino, deixar que a vida te guie. Pegar a mão do Universo e dizer que eu acredito que você irá me levar para onde preciso ir, e acredito que posso chegar nesse lugar sem ser passiva no processo. Eu escolho, acredito e caminho, não espero ser carregada.
Quero sentir a poeira nos meus pés, o cansaço, cair na cama e sentir que o dia valeu a pena, o descanso, o alento , o vir-à-ser que nunca acabe mesmo que fim chegue. É bom saber que no fim, existe lucidez no que escrevo.
Olho para a xícara, e tomo um gole de café frio, o tempo passou e eu descobri que não sentir intensamente, não indica que o caminho foi vazio, pelo contrário, agora sim eu sinto verdadeiramente cada átomo do meu ser.

Tornar-se pessoa.

Postado por AnaBaú às sábado, agosto 16, 2014 0 comentários
Nascemos e logo nos dão um nome, uma certidão de nascimento, um horário, um número de apgar e, a partir daquele momento, somos cidadãos brasileiros. Passamos a ter direitos, deveres e somos reconhecidos, mas isso é suficiente para que nos tornemos pessoas?
 No início, somos um caos, um folha em branco que vai sendo pintada pelos nossos pais, pelas experiências que vamos vivendo, pelos diversos sentimentos que passam por nós sem que consigamos identificá-los sozinhos. Aos poucos, nossos pais nos ensinam que podemos confiar neles (ou não), que temos que os respeitar porque eles sacrificaram a vida deles por nós, que temos tudo o que temos graças a eles. Aprendemos a compartilhar nossas coisas (ou não) com nossos irmãos, amigos, primos, colegas, ou então temos tudo para nós mesmos.
Vamos para a escola e passamos, ano após ano, com medo de chegar em casa com a notícia da reprovação e levar uma surra de cinto. Fazemos amigos e começamos a construir novas formas de se relacionar e ser, diferentes daquelas que tínhamos em casa. Até que chega o momento em que nos perguntamos quem nós somos, ou quem fomos até aquele momento. Eu me fiz essa pergunta durante muitos anos e penso que realmente me tornei uma pessoa no momento em que passei a fazer minhas próprias escolhas. Tornar-se pessoa é escolher, e escolher é tornar-se pessoa. É poder escolher ser quem se é, independentemente do que as outras pessoas pensarão sobre isso. É construir-se positivamente na relação com os outros, é definir afastamentos e aproximações, é escolher ficar, mas também escolher ir embora.
 É ter coragem de largar tudo o que teve até então e ir embora na tentativa de se encontrar. De passar todos os dias da sua vida sendo cada vez mais quem você é. E isso não significa passar uma vida sozinho, isolado numa ilha, vivendo do que a natureza pode oferecer. Ir atrás de quem se é, [é] encontrar pessoas para compartilhar as nossas existências, é deixar um pouco de si e levar um pouco do outro, é dar para o outro o que ele precisa, mas sem esquecer das suas necessidades. Até que um dia, depois de andar, você encontra outra pessoa-passarinho, um ser que largou tudo o que tinha e encontrou você, porque o verdadeiro sentido de tornar-se pessoa é encontrar alguém para compartilhar aquilo que se é.

As horas.

Postado por AnaBaú às sábado, agosto 16, 2014 0 comentários
Uma trilha sonora triste está tocando ao fundo, mas ela está surda.
A música perfeita para o final de uma cena, aquela na qual a personagem principal se afoga no lago.
Ela deixou uma carta escrita para seu marido. Ela deixou várias cartas, mas ninguém as leu. E então um dia levantou-se e resolveu partir por ela mesma, sem esperar ninguém.
O coração deseja ser livre e poder voar para onde quiser.
Malas não se fazem necessárias quando se tem um coração.
O coração é o guia e ouve os sussurros do destino.
Outra se sente congelada numa história que criaram para ela.
Lhe deram um papel que ela não gostaria de representar.
Sequer lhe permitiram dar o tom de suas falas, ou o brilho de seus olhos.
Ela sente-se asfixiada olhando a imensidão de papéis que se formam a sua frente.
Todos escritos, sem um mínimo espaço em branco para ela poder colocar a sua versão.
Um dia levantou-se cedo, e partiu para a estação de trem mais próxima e desapareceu, como em suas lembranças.
Ao final da linha de trem, há alguém que chegou de algum lugar.
Ela está fechando os olhos nesse exato momento e sentindo a música que toca ao fundo.
Ela sente que esta é a música do seu destino, mas sabe que os passos serão os dela.
Pega sua mala, coloca um sorriso no rosto e anda como se fosse invisível no meio daquela multidão.
Aquele é o primeiro dia de sua vida, e ela sabe que enquanto ouvir seu coração, ela irá para o lugar certo.

10 de jul. de 2014

Correr até você.

Postado por AnaBaú às quinta-feira, julho 10, 2014 0 comentários
É, pode ser que eu seja apenas uma narcisista vazia e plástica. Talvez eu seja uma imbecil, insensível, interesseira e fria. Talvez eu seja tudo o que você diz que sou, ou que eu não seja nada disso. Tudo é subjetivo, como dissemos.
Isso foi uma coisa que eu aprendi muito cedo, desde o início entendi que se quisesse sobreviver ou viver muitos anos eu teria que lutar bravamente por isso e sozinha. Quando eu era criança muitas coisas aconteceram e eu nunca tive para onde correr, e nem pra quem correr. Ninguém pra compartilhar minhas dores e nem as alegrias. Tudo o que eu fazia era cumprir com as minhas obrigações, nada além disso. Hoje eu penso que eu só estou vivendo porque estou cumprindo com a minha obrigação de estar viva.
Um dia eu sonhei que a minha vida foi diferente. Que houve um tempo em que alguém me esperava chegar da escola e se sentia feliz por me ver chegar. Que eu era útil aonde estava e que podia relaxar as vezes. E que inclusive eu poderia falhar as vezes, que eu podia sofrer e chorar.
Esse mundo nunca existiu pra mim. Desde cedo eu tive que tomar as rédeas da minha vida para garantir que eu continuaria aqui, eu fui a filha perfeita, a boneca perfeita e vazia, a melhor aluna da escola, o exemplo de bondade, simpatia e afeição, vazia, vazia, vazia.
 Estou aqui hoje porque um dia prometi pra mim mesma que a vida seria diferente, porém anos se passaram e eu continuo aqui, sozinha, lutando pela minha sobrevivência diária, vazia ... vazia ... vazia... ainda sem pra onde correr.

19 de jun. de 2014

Revivendo rascunhos.

Postado por AnaBaú às quinta-feira, junho 19, 2014 0 comentários
A quanto tempo estou aqui? Já nem me recordo, me parece uma eternidade. Não entendo como cheguei e por mais que eu procure não encontro uma saída. É estranho, mas sinto-me confortável. Aqui dentro as paredes são ásperas, grossas como se quisessem me proteger. Já perdi me ponto de referencia a muito tempo, cada passo me leva a em lugar mais escuro, quente, denso, há um lugar desconhecido Neste lugar quanto mais ando mais longe fica, cada passo uma dor, e uma dor cada coisa que faço, faço para agradar a alguém cheios de lembranças, cheios de coisas na cabeça, cheios de tudo, cheio de tentar consertar o que quebrei, cheio de se fingir de besta, mas acabou não farei nada para agradar os outros, não me interessa o que os outros falam e que pensam de mim, mas sim o que eu penso, e devo fazer coisas novas coisas que nunca fiz e que um dia irei fazer...

Não encontro um antídoto para entender que tudo terminou.

Postado por AnaBaú às quinta-feira, junho 19, 2014 0 comentários
Postado por AnaBaú às quinta-feira, junho 19, 2014 0 comentários
A casa está vazia como nunca esteve antes. Não há um mínimo ruído, um sinal de calor. Tudo o que há é silêncio e frio.
A noite está escura como nunca esteve antes. Não há um mínimo sinal de luz para guiar um andarilho perdido. Tudo o que há é escuridão e frio.
Dentro está vazio, escuro e frio como nunca esteve antes. Não há um mínimo ruído, ou sinal de luz, ou traço de calor.
Talvez quando alguém chegar nada mais fará sentido. Não terá restado um mínimo sinal de vida ou do porquê de vivê-la. O coração sente-se cansado e o frio apenas o faz sangrar mais.
A casa está vazia e fria como nunca. Eu deito e descanso até que eu não precise mais acordar.

13 de jun. de 2014

Postado por AnaBaú às sexta-feira, junho 13, 2014 0 comentários
Alguém vai estar esperando quando você chegar em casa. O céu pode esperar por você um pouco mais. Fico na porta te esperando com os braços abertos, mas você nunca vem. Eu posso esperar por você, mas não sei quanto.
Você ainda é a menina dos meus olhos, pequenina, que ainda tem medo do bicho-papão, que ainda quer colo, abraços fortes e muitos beijos. E você ainda espera que alguém esteja na porta esperando você chegar, mas ninguém nunca está.
Eu ainda sou uma mulher, as vezes doce, as vezes amargurada, que espera alguém chegar para cuidar. Ninguém nunca chega. É preciso sair de casa para buscar lenha, o fogo aquece a casa, mas não aquece o coração.
As duas vivem em mim, mas nunca se cruzam, nunca se encontram, mas ambas esperam.
Uma corre na chuva enquanto a outra corre da chuva.
Uma suja os pés na terra, a outra lava calçados.
Uma lambuza os dedos na cobertura do bolo, a outra separa os ingredientes.
Ambas em mim,
ambas feridas,
esquecidas,
sempre presentes,
dores ausentes,
lembranças ardentes,
medos inconfessáveis,
sonhos encantados,
até quando aprisionados?

31 de mai. de 2014

Postado por AnaBaú às sábado, maio 31, 2014 0 comentários
Alguém insiste em me dizer que o amor morreu.
Enviaram-lhe centenas de rosas negras para mostrar o seu pesar.
Pesar que não sente peso algum.
Eu não sei se o amor é algo natural ... há quem diga que o amor foi construído...
E eu concordo, amor também é uma construção, e se ele morre é porque quem constrói, talvez não esteja dando muita importância para aquilo que estão construindo.
Começamos colocando tijolos juntos, depois um coloca o cimento e outro o tijolo, depois alguém só quer colocar tijolos, sem cimento.
Os tijolos passam a ser colocados um ao lado do outro, dia após dia, mas não há nada que os una e os faça sentir firmes. Há quem discorde que o cimento seja importante, há quem só veja tijolos, mas se a construção é de dois, os dois são importantes.
Alguém insiste que o amor morreu, eu porém não creio nisso, acredito que o amor passou a ser uma construção antiga construída com elementos novos, com mais tecnologia, com os melhores produtos, mas sem as bases que outrora eram tão importantes.
Grandes construções em cima da areia, afundam.
Mas insistem em dizer que o amor morreu, e eu prefiro acreditar que a construção se tornou pesada demais e afundou.
Quem sabe um toque de leveza, ou de solidez mudasse tudo...
Talvez, quem sabe, o amor tenha morrido.
Por pesar demais e ao mesmo tempo sem pesar algum.

Postado por AnaBaú às sábado, maio 31, 2014 0 comentários
Há coisas que só fazem sentido se forem ditas.
Há coisas que só fazem sentido se forem escritas.
Há coisas que só fazem sentido se forem desenhadas.
Há coisas que só fazem sentido.

19 de mai. de 2014

Postado por AnaBaú às segunda-feira, maio 19, 2014 0 comentários
E então me calo. Haverá pecado nas palavras e no silêncio, prefiro então ser condenada por aquilo que não disse.
Contemplo teus olhos, mas é o meu vazio que sinto. Queria dizer que te amo, e num momento relapso o faço, porém sinto que já não resta mais nada do amor.
Proferir palavras é esvair de significados aquilo que se sente. É querer que o outro compreenda e dê significado àquilo que você sente. Eu sinto que é hora de ir embora, você me diz que não há motivos.
Silencio-me diante de ti e miro-te enigmaticamente, talvez isso esteja acontecendo apenas dentro de mim. Não me cobre palavras, e se eu as der pra você, não precisa compreendê-las. Apenas ouça quando falo, e então siga calado, eu já lhe disse que toda vez que lhe digo, as palavras roubam o sentido do que sinto.
Suspiro e me calo novamente. De que servem as palavras sem o amor?

10 de mai. de 2014

Postado por AnaBaú às sábado, maio 10, 2014 0 comentários
Caminhos novos se abrem todos os dias. Caminhos antes novos tomam rumos diferentes. Caminhos terminam em becos-sem-saída. E então somos obrigados a construir nossas próprias saídas, para os caminhos que criamos e escolhemos.
Eu, assim como você, já sabemos por que caminhos andamos. Terrenos arridos, relevos, planos, subidas íngremes, areia macia, areia movediça... Os mais diversos solos foram provados pelos nossos pés, testando nossa resistência, nossa fé, nossa convicção, mas nós já sabemos por onde estivemos.
Sinto que agora é hora de deixar que as memórias de meus pés descansem. É preciso andar como um desconhecido e conhecer novamente as planícies, os verdes campos, as estradas rochosas, as flores na beira da estrada. É preciso voltar a andar como um recém-nascido, hora com medo, hora com entusiamo, como um explorador de si mesmo que percorre caminhos distintos dentro de si mesmo.
O caminho passado, assim como a bagagem foram deixadas num canto da estrada, sem nome e sem endereço para devolução. Parto sozinha, pois já tenho dentro de mim tudo o que necessito para seguir viagem. Não estou dizendo que continuarei sozinha durante todo o percurso. Sei que a diante alguém terá água fresca para me oferecer, ou então serei eu que oferecerei um pedaço de fruta, um pedaço de pão, um pedaço de mim.
É preciso conhecer o novo caminho, deixar que o novo me encontre, estar aberta para que o novo entre. Eu já conheço a minha história, essa velha história que aconteceu à anos atrás, já sei por onde estive, com quem estive, com queria ter continuado, com quem queria ter deixado ir mais cedo. Quando olho para trás, já sei ... já sei... já sei, não há nada mais que fazer lá.
Olho para frente e o mundo me espera. Me abraça, me conforta e diz que estava a muito me esperando. E eu vou, não importa se sozinha ou acompanhada, confiante ou assustada, eu sei que vou e a estrada me conduz para o caminho que me leva até aonde eu devo ir, dentro de mim mesma.

9 de abr. de 2014

Postado por AnaBaú às quarta-feira, abril 09, 2014 0 comentários
Eu queria ser chuva para cair sobre o seu corpo nu.
Percorrer toda a extensão da sua pele e torná-lo limpo e brilhante.
Sentir a sua pele toda pulsando a mesma energia da chuva.
Você carrega a força da terra nos olhos, a leveza da brisa nos lábios, o fogo na cintura, e a fluidez da água nos passos.
Nós nos encontraremos no caminho, e nossos poderes se unirão e assim governaremos.
Você sentirá todo o poder da terra que eu sou percorrendo a terra que você é, sentirá os terremotos interiores percorrendo o Universo que formaremos.
Durante nossa união nossos mares internos se unirão transbordando emoção e permitindo que uma vida nova floresça.
Nós povoaremos a terra e aqueceremos os corações de todos aqueles que cruzarem nosso caminho e sopraremos vida toda vez que nossos lábios se encontrarem.
A criação começa em nós, e nós podemos governar juntos porque o poder está em todos nós.
Eu amo você.

4 de abr. de 2014

Postado por AnaBaú às sexta-feira, abril 04, 2014 0 comentários
Então, será muito valioso se fazer os seguintes questionamentos:
  • Sei pedir ajuda ou mesmo oferecer ajuda em situações que precisam ser finalizadas para que haja um efetivo renascimento, seja meu, do outro ou nosso?
  • De que forma meus apegos, especialmente em relação a permanecer com alguém num relacionamento insatisfatório, não se deve à minha autodesvalorização e medo da solidão?

2 de abr. de 2014

Estiagem Emocional

Postado por AnaBaú às quarta-feira, abril 02, 2014 0 comentários
O sol está castigando a terra com seu excessivo calor. Lugares onde outrora corriam vastos rios, cessaram. Assim é a terra que eu sou, assim é a terra que fui.
Outrora imensos mares inundavam essas terras, fazendo com que muitas plantas fossem sufocadas.
A água se foi, e agora só há sol, queimando a terra, secando veios de emoção, me deixando seca e árida, impossível de produzir uma erva daninha sequer. 
O inverno se aproxima, e penso que a terra que sou precisa descansar. 
Colheitas excessivas desgastam, tiram, levam todos os nutrientes e me deixam estéril. 
Sinto que preciso deixar de produzir para pensar quais são os tipos de semente que venho cultivando. Seriam as sementes mais indicadas para o que desejo colher? Até onde vai a minha responsabilidade pela colheita? Até onde eu não necessito da colaboração do sol e das chuvas? 
Foi preciso que as águas cessassem também, porque os mares internos revelassem os tesouros perdidos no interior. Ninguém disse que a chuva jamais viria e que rios voltem a correr. 
Não é só a semente que precisa morrer. 
Eu, terra que sou, descanso dos meus mares, para que um dia eles voltem a nutrir-me e que eu possa ser novamente flor.

29 de mar. de 2014

Postado por AnaBaú às sábado, março 29, 2014 0 comentários
Você faz meu corpo pegar fogo, acende até as chamas mais profundas que estavam a tempos cobertos de gelo.
O encontro da chama com gelo transforma-se em cascatas e vapor que umedece meu corpo todo, querendo que o seu corpo me guie pelas estradas sinuosas que levam ao inferno.
Você me faz desejar a maçã do paraíso. Você faz com que eu queria renunciar o paraíso para seguir você.
Teus olhos me dominam como ninguém mais. Apenas sussurre meu nome que eu irei até você.
Doce submissão, meus pensamentos se confundem. Ao mesmo tempo que quero resistir, olho diretamente em seus olhos, e a sua boca me dá sede, a qual só cessa com você.
Você não entende que me faz entrar em contradição?
Como poderia eu estar submissa aos seus comandos, se quem deveria comandar sou eu?
Quem sabe você foi feito para governar ao meu lado, eu a Imperatriz e você o Imperador.
Diga que você deseja construir um Mundo comigo, e juntos iremos governar a Roda da Fortuna, fazendo com que ela traga bonança para as nossas colheitas.
Deixe que o Ceifador venha acabar tudo o que esteja Pendurado, afim de que a Estrela se faça presente no céu e o Julgamento aconteça.
O Mago nos avisará que algo está se iniciando ao fim. O Eremita iluminará nosso caminho a fim de que saibamos para o nosso carro será guiado, para que enfim possamos voar em direção ao Sol.
Governe comigo, ao meu lado. Eu serei a Papisa que revela os segredos ocultos dos seus olhos, até o Papa merece despir suas vestes em algum momento do caminho. A chama da Força continuará brilhando em nosso interior, e não mais precisaremos de Temperança e nem de Justiça, pois o nosso próprio fogo nos levará além.
Permita-me desvelar os segredos do mundo pra você. Permita desvelar os segredos que trago debaixo dos meus véus. Permita-me provar teus lábios sem padecer. Permita-me te amar, sem morrer.

27 de mar. de 2014

Dedos

Postado por AnaBaú às quinta-feira, março 27, 2014 0 comentários
Os teus dedos.
Sinto as tuas linhas deslizando nas minhas, ásperas mãos.
Pergunto-te, seriam tuas mãos redondas ou quadradas?
Mãos sensíveis ou práticas?
Tu simplesmente roças teus indicadores na minha palma, ou seria na minha alma?
Deleito-me silenciosamente, imaginando a ponta dos teus dedos percorrendo as minhas costas, te olho e você sorri.
Me desarmo. Roço a ponta dos meus dedos por toda a sua mão, arranho-te, desejo te sentir em toda extensão e textura, e quem sabe em toda sua ternura e sensibilidade.
Ai menino! Quem diria que um dia já fomos amantes? Ou será que ainda somos dois, sem nome? Já não o tenho, mas o toque dos seus dedos contra os meus me acalma.
Agita os meus sentidos, e me enche de ternura só com o olhar.
Acalma os meus sentidos, com a forma como segura a minha mão.
Sinto como se pudesse percorrer o mundo sem medo, porque levo você comigo.
Percorro as tuas linhas, querendo desenhá-las contigo.
Tu percorre as minhas linhas, querendo saber por onde estive.
E assim o tempo passa, nos olhamos, sorrimos, e deixamos que os nossos dedos se encontrem, se descubram, se afastem, se escondam, se sintam.
Assim como fizemos um dia, enquanto o calor do sol ainda brilhava dentro e nós, e tudo o que nós precisávamos para viver, era sorrir.
Te sinto como uma linha viva que cresce e se ramifica em mim.
Te percorro com a certeza que encontrarei a mim mesma no meio do percurso.
Te deixo livre para que percorra os caminhos atrás de sua essência, mesmo que esses caminhos te afastem de mim.

24 de mar. de 2014

Postado por AnaBaú às segunda-feira, março 24, 2014 0 comentários
Penso que em alguma das minhas vidas, eu já tive asas. Ou quem sabe, ter asas seja o meu estado natural.
Por um instante fecho os olhos e contemplo a pureza que existe em mim, e acredito que ela exista em você também.
Eu creio que a água possa me purificar diariamente, assim como a terra me guia diariamente, assim como o ar me permite respirar, e o fogo me permite transmutar o que sinto em palavras.
As vezes eu sinto que o lugar onde estou e o lugar que estive antes, é separado por tecido tênue, mas sólido o suficiente para senti-lo com a ponta dos dedos.
Estaria alguém sobrando essas palavras aos meus ouvidos agora? Ou será que eu tenho asas do outro lado?
As vezes eu fecho os olhos e sinto o vento soprando no meu rosto, eu sinto que um dia estive livre pelo céu, mas acredito que agora é hora de aprender a andar.


4 de mar. de 2014

Postado por AnaBaú às terça-feira, março 04, 2014 1 comentários
Desde a nossa última conversa meus mares internos cessaram. Fazia muito tempo em que não tinha a oportunidade de pensar com os mares calmos, e sinto que há muito a fazer ainda.
Os mares novamente voltaram a se agitar, as ondas batem contra meu peito e me impedem de respirar, mas agirei antes que morra afogada em meu próprio mar.
Disseste que por mais que o mar esteja em fúria, o barco jamais se mistura com a água e que assim eu deveria ser. Por mais que as ondas queiram me arrastar para outro lugar, me manterei firme seguindo viagem em direção ao meu destino.
As noites serão mais escuras do que estou acostumada, as ondas serão mais fortes do que meu barco, porém seguirei firme, pensando no meu destino. Alguém disse certa vez que quando a noite se vê mais escura é porque já vai sair o sol, então estou indo em busca da noite escura da alma.
Minha última tentativa de ser luz. Minha última tentativa de acender o farol interior. O único capaz de dissipar toda essa névoa que bloqueia meus olhos e me impede ver o que está diante de mim. E sei que desta vez, por mais que pareça que não, você segue comigo nesta viagem. Acolhendo meu corpo cansado, e preparando água quente para os pés. Acalentando meu coração ferido, muitas vezes já sem esperança. Você então pega-me e cuida delicadamente das minhas feridas e depois me deixa seguir viagem, sabendo que haverá um retorno.
Pensar com os mares internos calmos é uma grande oportunidade, mas o melhor da viagem é saber que há com quem compartilhar as dores da partida, os desafios cotidianos, e as noites escuras sem estrelas. Saber que ao final haverá alguém te esperando na praia, sorrindo e dizendo que sabia que você iria conseguir.
Você é quem me dá coragem para seguir essa dura viagem, uma saga interna em busca de mim, e da minha libertação. Você possibilita que eu nasça de novo e torna minhas asas fortes. E eu só posso agradecer por ter alguém assim comigo. Gratidão é tudo o que eu sinto e sou.
Postado por AnaBaú às terça-feira, março 04, 2014 0 comentários
Talvez eu tenha descoberto o que causa o meu cansaço.
Ultimamente os dias têm estado pesados demais, lentos, e eu sem energia até para respirar. Parece que estou arrastando algo mais pesado do que eu possa suportar.
Todo esse peso que carrego dentro de mim avisa o meu corpo que eu já não posso mais suportar, basta apenas mais um único acontecimento para que meu corpo desmorone de vez. É peso demais, carregado por tempo demais.
Ah, o cansaço. A respiração se torna difícil, andar se torna difícil, pensar, dormir, comer, sonhar, querer que as coisas se tornem diferentes. Parece que quando mais corro, mais peso recai sobre as minhas articulações. Eu preciso de alguém prepare água para os meus pés, e me dê aconchego por uma noite. Um local para um corpo cansado descansar de suas dores.
Ainda há um caminho a percorrer, eu sei. Só espero que um dia alguém se aproxime e me ajude a carregar este fardo, ou então, me ensine como jogá-lo fora.
Não nasci para ser como Atlas, me recuso acreditar que há uma maldição que me condena a carregar o mundo nas costas. Eu nasci para ser passarinho, e passarinho nasceu para voar.
 

Uma capirotinha. Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos