Nascemos
e logo nos dão um nome, uma certidão de nascimento, um horário, um
número de apgar e, a partir daquele momento, somos cidadãos brasileiros.
Passamos a ter direitos, deveres e somos reconhecidos, mas isso é
suficiente para que nos tornemos pessoas?
No início, somos um caos, um folha em
branco que vai sendo pintada pelos nossos pais, pelas experiências que
vamos vivendo, pelos diversos sentimentos que passam por nós sem que
consigamos identificá-los sozinhos. Aos poucos, nossos pais nos ensinam
que podemos confiar neles (ou não), que temos que os respeitar porque
eles sacrificaram a vida deles por nós, que temos tudo o que temos
graças a eles. Aprendemos a compartilhar nossas coisas (ou não) com
nossos irmãos, amigos, primos, colegas, ou então temos tudo para nós
mesmos.
Vamos para a escola e passamos, ano após
ano, com medo de chegar em casa com a notícia da reprovação e levar uma
surra de cinto. Fazemos amigos e começamos a construir novas formas de
se relacionar e ser, diferentes daquelas que tínhamos em casa. Até que
chega o momento em que nos perguntamos quem nós somos, ou quem fomos até
aquele momento. Eu me fiz essa pergunta durante muitos anos e penso que
realmente me tornei uma pessoa no momento em que passei a fazer minhas
próprias escolhas. Tornar-se pessoa é escolher, e escolher é tornar-se
pessoa. É poder escolher ser quem se é, independentemente do que as
outras pessoas pensarão sobre isso. É construir-se positivamente na
relação com os outros, é definir afastamentos e aproximações, é escolher
ficar, mas também escolher ir embora.
É ter coragem de largar tudo o que teve
até então e ir embora na tentativa de se encontrar. De passar todos os
dias da sua vida sendo cada vez mais quem você é. E isso não significa
passar uma vida sozinho, isolado numa ilha, vivendo do que a natureza
pode oferecer. Ir atrás de quem se é, [é] encontrar pessoas para
compartilhar as nossas existências, é deixar um pouco de si e levar um
pouco do outro, é dar para o outro o que ele precisa, mas sem esquecer
das suas necessidades. Até que um dia, depois de andar, você encontra
outra pessoa-passarinho, um ser que largou tudo o que tinha e encontrou
você, porque o verdadeiro sentido de tornar-se pessoa é encontrar alguém
para compartilhar aquilo que se é.
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