23 de dez. de 2015

A filha de Helena parte 1

Postado por AnaBaú às quarta-feira, dezembro 23, 2015 0 comentários
É chegado o dia da batalha. Acordei cedo, não consegui dormir.
Antes que o sol raiar, afiei minha espada, apertei minhas botas e preparei minha armadura. Hoje é um dia importante, talvez o último de minha vida. Um dia do qual, independente do resultado, me sentirei orgulhosa.
Eu sou Ana, filha de Helena. Dispenso títulos e apresentações. Dispenso grandes cerimônias e celebrações. E dispensaria a morte, se isso fosse possível.
A espada nasceu comigo, assim como a flecha. Extensões do meu braço, dos meus pensamentos e do meu ser. Engana-se quem pensa que vou para as batalhas apenas para inflar meu ego. É na batalha que encontro o motivo de eu estar viva. É na minha força e coragem que a vida se faz, cruel e fria como a lâmina da espada que carrego. É o meu sangue que escorre em cada ser morto, é a minha redenção.
Encilhei meu cavalo e estou à postos esperando os demais. Ao todo, setecentos guerreiros esperaram por esse dia. O dia em que defenderemos a nossa terra e a nossa gente. É quase inverno e a Grande Mãe prepara-se para descansar. Os alimentos se tornam escassos, assim como a água. E os saqueadores e mercadores estrangeiros virão nos roubar o que é nosso por direito.
Para além das colinas não existe nada além dos rochedos. No inverno a vida deve descansar, o povo já trabalhou o bastante para abastecer os armazéns da cidade. É o direito de todos descansarem. E para isso, eu e os demais cavaleiros estaremos à postos quando os invasores chegarem.

Vagar

Postado por AnaBaú às quarta-feira, dezembro 23, 2015 0 comentários
Hoje é uma daquelas noites em que desejo escrever maquinalmente.
Incrível, como alguns dias podem influenciar tão firmemente seus sentimentos. No caso, meus sentimentos.
Há exatamente uma semana atrás estava em uma rotina enlouquecedora ... Relatórios para entregar, carga horária à cumprir, uma correria intensa, dormindo pouco, comendo menos ainda e de repente cá estou.
Os sentimentos da velha infância despertaram mais uma vez.
As janelas fecham-se cedo e a luz não pode entrar.
A guerra diária, ela fecha as janelas e eu as abro.
Não sei exatamente se chove ou faz lá fora.
Apenas sinto calor ou frio aqui dentro.
Não  posso dizer com certeza se há vida para além destas paredes,
Apenas sinto aqui dentro.
Sinto aqui dentro, desejo de viver lá fora.
Ver a luz das estrelas e me banhar com a chuva,
Sentir o vento sobrando sua suave brisa em meu rosto.
Olhar para o céu com a esperança de que há um lugar para mim.

Sim, há de existir algum lugar no mundo para mim.
O meu lugar. O meu pertencimento.
Nos filmes sinto que meu lugar é empunhando uma espada, em cima de um cavalo, guiando um exército.
Mas e fora dos filmes? Qual é o meu lugar? Não há lugar para espadas e cavalos nesse mundo.
O meu exército é só de um. Um exército que pouco luta e está cansado.

Os olhos, porém, querem descobrir verdejantes prados
Intensos amores e batalhas de cavaleiros.
Quer sentir novamente o trotar dos cavalos sob os pés.
Quer ver a fogueira arder sob um céu incerto.

Ainda estou sob um céu incerto, mesmo que não possa vê-lo.
Desejo que meus pés sejam guiados para o caminho de outrora,
Como nas velhas batalhas, em que erguer uma espada e morrer lutando era tudo o que se esperaria viver.

Aguardo que essas paredes caiam e eu ouça o chamado.
Que meus pés sigam o caminho da luz,
que a minha espada esteja embainhada
para o dia que eu dela necessitar.
 

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