10 de fev. de 2016

Life is ...

Postado por AnaBaú às quarta-feira, fevereiro 10, 2016 1 comentários
Quis negar a poesia por medo de ser salva por ela. Quis negar que cada letra que compõe estas palavras são como um antídoto que cai gota à gota sobre o meu coração. Quis negar e no entanto, estou aqui. 
Esse antídoto não poderá salvar meu coração ... não desta vez. Mas eu parti antes que ele me partisse e estou bem.
Eu tenho pensado sobre a vida e suas infinitas maracutaias. Eu não sei realmente se tudo isso vem da vida ou das pessoas, mas cada dia mais se torna estranho estar viva e mais difícil querer estar viva.
O engraçado é que a maioria das pessoas não pede para nascer e quando vêm ao mundo tem que viver como se tivesse pedido para estar aqui. A minha vida iniciou-se basicamente assim: eu não sei onde eu estava antes de vir, mas um dia me dei conta de que estava aqui.
De um lado havia minha mãe, que precisava trabalhar e que trabalhou até instantes antes de eu nascer. Do outro lado não havia ninguém e permaneceu assim por muitos anos. Mas logo à minha frente havia alguém cheio de amor para me dar: minha avó.
Antes de mim ela possuía uma história, um marido, vários filhos e agora eu estava chegando e precisando de alguém que me ajudasse a ficar viva. Se não fosse por ela, hoje eu não escreveria este texto.
Minha mãe sempre trabalhou, durante a infância eu costumava vê-la aos sábados e domingos, as vezes somente aos domingos e as vezes não a via por semanas. E meu pai, bem, por muitos anos eu acreditei que ele não existia. Ninguém falava dele, ninguém sabia nada sobre ele, só sabia que seu nome era Antônio. Então eu tinha um pai, que se chamava Antônio, mas que não tinha forma alguma. Um pai imaginário do qual eu nunca lembrava.
O restante da família sempre me tratou mal, quando eu era criança me chamavam de manhosa. E bem, anos se passaram e acredito que ainda pensam isso de mim, acrescentando alguns adjetivos piores. Hoje percebo que o ódio que eu sentia que vinha em minha direção não era algo  imaginário. Atualmente ele está ainda maior e mais consolidado. Percebo que os meus tios e primos sempre sentiram ciúme do fato de eu morar com os meus avós, sempre acharam que eu era "a preferida". E hoje, esse ciúme ou sei lá que sentimento seja, tomou uma proporção que faz com que eles não consigam dirigir a palavra à mim sem agressividade. Me ignoram o máximo que podem e quando falam comigo aquilo sempre chega com uma agressividade que poderia me derrubar. 
Eu entendo que eles devem sentir mágoa por terem "perdido" a mãe deles. Mas eles não conseguem perceber que eu nunca pedi nada disso. Se meus avós não tivessem me acolhido, eu não sei onde eu estaria hoje. Estaria sem mãe, sem pai e talvez sem vida. Os anos se passaram e a minha mãe continua longe. Os anos se passaram e o meu pai continua sendo uma miragem. E eu não sei o que pensar e fazer quando as pessoas me agridem pelo simples fato de eu estar viva. É como se eu nunca fosse perdoada por algo que eu não escolhi. 
E à medida que as lágrimas tomam a minha face, eu não sei mais o que pensar sobre tudo isso. Eu só quero me afastar e encontrar um lugar onde eu possa viver em paz. Sem sentir culpa por existir. Um lugar pra descansar esse coração cansado que insiste em sentir esperança que um dia isso tudo vai mudar. Ah! o otimismo.

 

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