16 de ago. de 2014
Meninos copiadores
Sinto-me como uma ave presa no meio de outras milhões de aves, um
menino-copiador que passa seus dias reproduzindo as obras centenárias.
Mas se um dia a janela estivesse aberta, o vento poderia soprar tão
forte que faria a tinta cair sobre o papel produzindo algo mais do que
letras. Talvez nesse dia, o menino-copiador se desse conta de que ele
também poderia se tornar um menino-criador. O papel então poderia se
tornar o que ele quisesse, poderia mostrar o mundo dele e instigar os
outros meninos-copiadores a serem meninos-criadores, poderiam então
juntos produzirem desenhos, pinturas, escritos próprios, e o vento se
encarregaria de enviar suas criações aos outros lugares do mundo, muitos
outros meninos-copiadores que estivessem copiando, largariam suas
canetas e poderiam criar também. Afinal, de que vale uma escrita
maravilhosa, se ela morre na gaveta, no arquivo, no incêndio? Mas o
vento não soprou naquela tarde, a janela não se abriu e a tinta
continuou no mesmo lugar. O único movimento perceptível na sala, eram o
mergulhar das canetas nos tinteiros, e a mão que fazia o delineamento no
papel, mas ao fundo da sala o supervisor mantinha-se atento à qualquer
movimento contrário do imposto. O que ninguém sabia é que um dia ele
havia sido um menino-copiador também e que o maior desejo dele era que
um dia a janela se abrisse e a tinta pudesse criar.
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