23 de dez. de 2015

A filha de Helena parte 1

Postado por AnaBaú às quarta-feira, dezembro 23, 2015 0 comentários
É chegado o dia da batalha. Acordei cedo, não consegui dormir.
Antes que o sol raiar, afiei minha espada, apertei minhas botas e preparei minha armadura. Hoje é um dia importante, talvez o último de minha vida. Um dia do qual, independente do resultado, me sentirei orgulhosa.
Eu sou Ana, filha de Helena. Dispenso títulos e apresentações. Dispenso grandes cerimônias e celebrações. E dispensaria a morte, se isso fosse possível.
A espada nasceu comigo, assim como a flecha. Extensões do meu braço, dos meus pensamentos e do meu ser. Engana-se quem pensa que vou para as batalhas apenas para inflar meu ego. É na batalha que encontro o motivo de eu estar viva. É na minha força e coragem que a vida se faz, cruel e fria como a lâmina da espada que carrego. É o meu sangue que escorre em cada ser morto, é a minha redenção.
Encilhei meu cavalo e estou à postos esperando os demais. Ao todo, setecentos guerreiros esperaram por esse dia. O dia em que defenderemos a nossa terra e a nossa gente. É quase inverno e a Grande Mãe prepara-se para descansar. Os alimentos se tornam escassos, assim como a água. E os saqueadores e mercadores estrangeiros virão nos roubar o que é nosso por direito.
Para além das colinas não existe nada além dos rochedos. No inverno a vida deve descansar, o povo já trabalhou o bastante para abastecer os armazéns da cidade. É o direito de todos descansarem. E para isso, eu e os demais cavaleiros estaremos à postos quando os invasores chegarem.

Vagar

Postado por AnaBaú às quarta-feira, dezembro 23, 2015 0 comentários
Hoje é uma daquelas noites em que desejo escrever maquinalmente.
Incrível, como alguns dias podem influenciar tão firmemente seus sentimentos. No caso, meus sentimentos.
Há exatamente uma semana atrás estava em uma rotina enlouquecedora ... Relatórios para entregar, carga horária à cumprir, uma correria intensa, dormindo pouco, comendo menos ainda e de repente cá estou.
Os sentimentos da velha infância despertaram mais uma vez.
As janelas fecham-se cedo e a luz não pode entrar.
A guerra diária, ela fecha as janelas e eu as abro.
Não sei exatamente se chove ou faz lá fora.
Apenas sinto calor ou frio aqui dentro.
Não  posso dizer com certeza se há vida para além destas paredes,
Apenas sinto aqui dentro.
Sinto aqui dentro, desejo de viver lá fora.
Ver a luz das estrelas e me banhar com a chuva,
Sentir o vento sobrando sua suave brisa em meu rosto.
Olhar para o céu com a esperança de que há um lugar para mim.

Sim, há de existir algum lugar no mundo para mim.
O meu lugar. O meu pertencimento.
Nos filmes sinto que meu lugar é empunhando uma espada, em cima de um cavalo, guiando um exército.
Mas e fora dos filmes? Qual é o meu lugar? Não há lugar para espadas e cavalos nesse mundo.
O meu exército é só de um. Um exército que pouco luta e está cansado.

Os olhos, porém, querem descobrir verdejantes prados
Intensos amores e batalhas de cavaleiros.
Quer sentir novamente o trotar dos cavalos sob os pés.
Quer ver a fogueira arder sob um céu incerto.

Ainda estou sob um céu incerto, mesmo que não possa vê-lo.
Desejo que meus pés sejam guiados para o caminho de outrora,
Como nas velhas batalhas, em que erguer uma espada e morrer lutando era tudo o que se esperaria viver.

Aguardo que essas paredes caiam e eu ouça o chamado.
Que meus pés sigam o caminho da luz,
que a minha espada esteja embainhada
para o dia que eu dela necessitar.

31 de out. de 2015

Postado por AnaBaú às sábado, outubro 31, 2015 0 comentários
Não posso mais negar, eu o amo.
O corpo,
o beijo,
o desejo.

Não posso negar, o seu medo.
O sorriso,
a mordida,
o afastamento.

Não nego, nossas semelhanças.
A cumplicidade dos olhos,
a leveza dos sonhos,
o medo do encontro.

Não posso mais negar, nós.
Um espaço no coração,
a morada da paixão,
do amor,
do que for,
se você também quiser
e ser.

Fazer (ser) amor

Postado por AnaBaú às sábado, outubro 31, 2015 0 comentários
Nossos caminhos se cruzam,
se entrelaçam,
se unem,
se afastam,
como nossos corpos.

Fazemos amor,
como deuses com imperfeições,
o encaixe da alma
que repousa no
encaixe do meu queixo no seu ombro.

Somos amor,
cada mínimo movimento
do suor que escorre dos
Dois.
Ou um.
Somos e sentimos,
rimos com a verdade,
não tendo porque escondê-la.

Fazemos amor,
somos amor,
quando os olhos sorriem
e o corpo se entrega,
Quando se é amor,
não há o que temer.

20 de out. de 2015

Mother

Postado por AnaBaú às terça-feira, outubro 20, 2015 0 comentários
Gostaria de estar andando na rua em algum lugar e encontrar você do outro lado. Não sei se iria sorrir pra você, mas se talvez você se aproximasse poderíamos conversar.
Poderíamos conversar como estranhas que somos e assim nos conhecer. Você poderia me falar sobre a sua vida, sobre como foi sua infância e o que você pensava ou então sobre os medos da adolescência e tudo o que aconteceu antes de eu nascer. Quem sabe poderia falar sobre como eu era quando nasci e como foi que nos conhecemos ...
Ao ouvir você eu pensaria que nosso tempo não acabou ... Eu iria lhe falar sobre como me sentia quando era criança, sobre as coisas que eu pensava e sobre as coisas que me causavam medo. Eu lhe falaria sobre como eu gostaria que você estivesse próxima de mim durante todo esse período e o quanto eu preciso de você.

Sabe mãe, eu cresci.
Hoje eu sou uma adulta mas eu ainda penso que poderíamos viver mais próximas, e penso também que para que isso aconteça precisamos nos conhecer e começar uma nova vida nova. Eu não sou mais uma menininha e você também não é.
As vezes tenho medo que você veja que eu cresci e não me ame mais. As vezes eu tenho medo que você não perceba que eu cresci e continue me amando demais.
As vezes eu penso que gostaria que fosse uma mãe que você não pode ser. As vezes penso que não sei que mãe você poderia ser.
Eu não sei se a vida nos dará uma segunda chance e também não sei se você compreenderia ... Mas preciso confessar que seus olhos magoados olhando pra mim - mesmo que em sonho - partem meu coração.
Não sei se você vai deixar de me amar - provavelmente não - ao perceber que cresci. Tenho feito muitas coisas que sei que lhe desagradariam se você soubesse, mas quero que saiba que ainda preciso do seu amor.
Eu fico confusa, mãe. Tenho que escolher o tempo todo se irei ser a filha que você sonhou e merece o seu amor, ou serei a pessoa que acredito que sou e merece viver sem o seu amor.
Talvez se nos encontrássemos na rua e você me falasse sobre a sua vida, eu poderia entender o que se passa dentro de você e assim acalmar esses sentimentos dentro de mim.
Talvez esse encontro nunca aconteça mas, eu gostaria de saber se apesar de todos os meus erros, eu ainda mereço seu amor?

1 de set. de 2015

... and her dead feelings

Postado por AnaBaú às terça-feira, setembro 01, 2015 0 comentários
A menininha que corre em direção aos braços abertos. Um colo, um abraço verdadeiro, afeto e afago.
Os pés balançam no ar e o rosto sente o calor de um outro rosto.
Sabe, as vezes sinto que você não me ama. E eu sei, esse sentimento é meu. Mas você nunca se preocupa comigo da mesma forma como se preocupa com eles. Pra você, tudo o que é meu é banal.
Eu gostaria de saber quem é que estará aqui por mim, no final.
E se o final for amanhã? Alguém estará?
No final das contas eu estou precisando me sentir cuidada, olhada.
As paredes não aguentam mais ouvir minhas lamúrias e o meu corpo não aguenta mais sentir minha dor.
No entanto, dói por todo lado, o tempo todo.
E quem estará aqui por mim?
Nem eu mesma.

18 de jul. de 2015

Meu final feliz.

Postado por AnaBaú às sábado, julho 18, 2015 0 comentários
Anna acabou de sair de casa, foi atrás de seu final feliz.
Mudou-se de casa, mudou de pessoas, mudou de cidade, mudou de vida e foi atrás de seu final feliz.
Mudou o cabelo porém as roupas permaneceram as mesmas.
Os pés continuam frios durante a noite.
Os olhos ora se iluminam, ora esvaziam-se, escondem-se, tornam-se duas bolas pretas e fundas.
As mãos ora acariciam, afagam, tocam, oras estão quentes, ora estão geladas, duras.
O corpo continua fofo, quente e frio, macio sob a camisola de avó.

Anna um dia saiu atrás de seu final feliz.
Hoje pensa que se perdeu durante o caminho.
Só encontra despedidas e encruzilhadas,
desencontros e partidas.

Anna um dia saiu sorrindo em busca de seu final feliz.
Hoje não sorri mais, nem para parecer bem.
Os olhos que sorriam não sorriem mais.
As palavras bonitas não ecoam mais de seus lindos lábios.

No entanto,
Anna ainda quer ser seu final feliz.
Anna ainda busca seu final feliz.
Anna não sabe se o final feliz existe ou se foi algo que ela inventou para poder viver.
Ainda ainda busca.
Postado por AnaBaú às sábado, julho 18, 2015 0 comentários
Esvazio-me.
olhos novamente no espelho,
mãos contra um vidro gelado,
boca seca outra vez,
sem impressões,
sem expressões,
um corpo sem corpo.
uma mente demente.
não sei porque continuo aqui.

Sentido.
Todo dia há um carta na minha janela,
todas vazias,
querem me lembrar que eu perdi o controle da minha vida,
 em algum lugar.

Tento,
no intento de sentir algo,
que faça sentido,
pra alguém,
nessa vida.

Esvazio-me,
preencho-me momentaneamente com outro corpo
que se vai e
esvazia-me
deixando-me novamente
ser um recipiente de nada


18 de jun. de 2015

Inconsistência

Postado por AnaBaú às quinta-feira, junho 18, 2015 0 comentários
O toque do outro lado é sempre imaterial;
Minha pele como vidro ou uma simples sombra,
 de nada;
Não há reflexo no espelho,
não há faces rosadas,
olhos brilhantes,
apenas uma boca seca clemente por ar;

O outro lado é apenas uma mentira,
assim como o que há aqui dentro.
Se o outro reflete o que sou,
inconsistente, fria e vazia.

Se o outro me olha,
o que vê?
Meus teatros são reais;
Basta dizer que se está bem.
e se está;
Se o outro me toca,
o que sente?
Basta um gemido para fingir que também o sinto;
Mas a verdade é que sempre sobra algo aqui,
Eu.

Sem som.
Com meus passos deslizo pelo chão;
Sem respiração;
Escondo-me ao sentir o mínimo movimento;
Uma minhoca que se esconde sob a terra;
Um rato dentro de sua toca;
Eu, menos que um simples animal.

Eu,
incapaz de criar um vínculo real;
Eu,
sempre dentro de mim;
Eu,
sem concordâncias e sentidos;
Eu,
vazia, quebrada e fria;
Eu,
novamente sozinha e escura;
Eu,
sempre esse maldito eu;
Eu,
quando haverei de existir, tu?
Eu,
até quando?
Eu?

12 de mai. de 2015

Incompleto.

Postado por AnaBaú às terça-feira, maio 12, 2015 0 comentários
Tenho em mim um sentimento que não quer ter nome.
Em mim pulsa, colapsa, desorganiza.
As cachoeiras estão secas, não formam cascatas.
O choro não é livre.
O que resta é apenas areia, árida em meus olhos.
Já não há brilho no olhar,
a boca pouco se move.
O corpo já não produz som,
não forma corredeiras,
não alimenta o jardim que um dia fui.

Calado, sereno, colapso interno, terremoto cerebral.
Mãos paradas, olhos parados, embotamento emocional.
Silêncio em excesso.
Barulho em excesso.
Não há tempo para descansar.


29 de mar. de 2015

A morte escondi em si, a vida e o mistério.

Postado por AnaBaú às domingo, março 29, 2015 0 comentários


ATO 1.
Os pés estão cansados, ele está em cima de um prédio com as mãos no bolso, esperando que o vento o faça de pêndulo e o derrube de lá.
Marcos, cabelos cacheados, olhos escuros, a mochila azul sempre à tiracolo, seu nome não mais o pertencia, nem o que os olhos viam, nem o que carregava na mochila e muito menos o que carregava no coração.
Lembrou-se de Ana, sempre doce, sempre menina. Os mesmos cabelos cacheados que se enrolavam aos dele, os mesmos olhos escuros, a bolsa levada à tiracolo, nada mais importava.
O vento sempre ouve os pedidos, basta lança-los ao vento, fazer uma oferenda e esperar acontecer. Tão logo despediu-se de Ana em pensamentos , o vento soprou com força e o derrubou de lá.
Milésimos de segundos para um coração e para uma mente cheia de histórias, o corpo estava voando e as lembranças foram deixadas para trás. Tudo agora transformara-se em um corpo cravado na calçada sem vida.
Ana não soube, ela nunca veio à saber o que havia acontecido com Marcos. Ana nunca soube que os lobos correm à noite em busca da lua para vê-la dançar, a lua na verdade, buscava por ela. Marcos sempre soube, mas nunca pôde avisar.
A morte trás consigo a vida e o mistério, em um instante um corpo cravado na calçada, instantes depois as pessoas caminham pela calçada pisoteando as memórias que ficaram perdidas ali esperando alguém resgatá-las.

ATO 2.
Os lobos correm e uivam atrás da lua, as hienas, os coiotes fogem dos caçadores cruéis. O grande Urso nunca se deitará para descansar.  A fina linha que divide o mundo humano e animal desaparece quando a lua aparece no céu.
Os corvos estão chamando por ela, as penas estão sendo deixadas em seu caminho. Dia após dia, as mensagens são deixadas ao vento para que possam chegar ao seu coração.
As estrelas falam o tempo todo, mas é preciso olhar para o céu para encontrar a mensagem. Onde está ela? Todos se perguntam e uivam para que ela apareça logo.
A briga pela sobrevivência, as hienas destroçam o pequeno animal e riem comendo sua carne. A lei é clara, os maiores e mais aptos comem os menores e menos aptos, não há espaço para inteligência ou amor.
As ervas estão sendo queimadas, mensagens de fumaça estão sendo enviadas. Ana onde está você? É a natureza selvagem que clama por você! Que as mensagens cheguem à você através dos seus sonhos e que você venha conhecer o mistério.

ATO 3.
Ana está tentando dormir, sua mente está inquieta. É a décima noite que dorme de madrugada, mesmo tendo que levantar cedo no dia seguinte. Lá fora ela ouve os cachorros latindo, brigando, lutando por um pedaço de carne qualquer. As corujas piam, os passarinhos se acomodam ao pôr do sol e ela permanece com os olhos acessos.
Todas os dias centenas de mensagens são enviadas, mas quem é que está apto para recebe-las e decifrá-las?
O que é que determina quem vai salvar e quem vai tirar vidas? Porque você está chorando como se tudo fosse o fim? A mensagem é clara, a morte esconde em si a vida e o mistério, basta ter olhos para ver.
Ana não vê com os olhos e não ouve com os ouvidos, mas em seus sonhos os tambores tocam e os animais uivam em seu coração. A montanha sagrada, o vento ancião, as mensagens secretas são depositadas em seu coração, como um ninho.
Ana, você sabe quanto tempo ainda tem? Quanto tempo lhe resta? Ouça o chamado dos antigos antes que seja tarde demais.  Ana, onde está você que não pode ouvir?
As mensagens acumulam-se em seu coração mas o caminho da verdade parece estar obstruído.

ATO 4.
Hoje Ana acordou sentindo dentro de si uma morte. Andou pela cidade e pisou nas memórias de Marcos sem saber. Olhou-se num espelho que não era seu e viu lágrimas correndo pelo seu rosto.  O coração apertava-lhe o peito e a impedia de respirar. Quem era essa pessoa que lhe fazia falta e que ela não conhecia? Ela sentia que devia viajar pra algum lugar, sentia vontade de voar para um lugar distante que ela não sabia onde era. Passou a semana calada, chorosa, tentando descobrir o que lhe tirava o ar.
Numa manhã encontrou um pequeno papel onde estava escrito “ a morte esconde em si, a vida e o mistério”. Mas não pôde compreender.  Naquela semana encontrou dezenas de penas pelo caminho e sentia que devia guarda-las.
No mesmo dia voltava para casa próximo da meia-noite, as ruas estavam silenciosas e escuras, e os grilos pareciam estar dentro da sua cabeça,  sentia-se confusa com o coração apertado e com a frase que não saia de sua cabeça.  Olhou para o céu, contemplou a lua cheia e pediu ajuda.
Sonhou que estava dormindo tranquilamente em sua cama quando um pequeno corvo entrava em seu coração, ela pôde sentir as asas se acomodando no pequeno espaço e quando acordou teve a sensação que existia mesmo alguém ali. Olhou para todas as penas que havia encontrado, pensou no corvo, mas não conseguiu associar à nada que respondesse suas perguntas.
Levantou-se, pegou sua bolsa e foi até a mata meditar. Escolheu um lugar no coração da mata, sentou-se e fechou os olhos.  A cabeça parecia estar habitada pela população mundial, sentia seus pensamentos girarem, as vozes se confundiam, até que conseguiu focar na sua respiração e deixar que o Sagrado falasse com ela.
Aos poucos sentiu que deixava o corpo, o barulho da mata estava dentro dela, a respiração da mata era a sua, não existia limites entre uma e outra. Sentiu suas raízes fixando-se à terra e sendo nutrida por ela. O silêncio tomou conta da sua mente e aos poucos sentiu como se uma parte dela desprendesse do corpo e pudesse voar. Voou até uma grande montanha e admirou-se com o que podia ver de lá em cima. Uma enorme cachoeira com uma alta e fina rocha no centro, percebeu que no topo da rocha havia um ninho e sentiu que devia ir até lá.
Quando sentou-se no ninho sentiu como se já conhecesse aquele lugar. Por um instante sentiu como se sempre houvesse pertencido àquele ninho, o som da água caindo, o vento soprando lá em cima a enchia de tranquilidade, ela estava em segurança e seus ovos também.  
Permaneceu ali em plena segurança até sentir que devia voltar. Aos poucos trouxe suas raízes para dentro de si e guardou suas asas. Sentiu-se no bosque novamente, sem abrir os olhos. Deixou que aos poucos as batidas do seu coração fossem somente as suas.
Quando abriu os olhos a angústia já não existia, a sensação de pertencimento a preenchera totalmente, então ela pegou sua bolsa e voltou para casa.

ATO 5.
Ana nunca entendeu o que a frase “a morte esconde em si, a vida e o mistério” queria dizer. Talvez porque ela nunca soube que Marcos morreu para que ela pudesse encontrar quem ela realmente era.

7 de mar. de 2015

Postado por AnaBaú às sábado, março 07, 2015 0 comentários

Porque você me deixa sozinha em um mundo que eu não entendo?

10 de fev. de 2015

O primeiro passo.

Postado por AnaBaú às terça-feira, fevereiro 10, 2015 0 comentários

A história só começa quando você sai de casa, haveria outra maneira de você saber quais são as suas habilidades? Há outras habilidades, porém, que você precisa descobrir, o que você deve mostrar ao mundo e o que deve ocultar?
Lembre-se da sua mãe, sempre doce e criativa, fazia magia usando apenas alguns alimentos encontrados na cozinha. Lembre-se do seu pai, forte e justo, as vezes o coração deve ser deixado de lado para que decisões possam ser tomadas. Lembre-se também que o equilibrio é estar entre os dois, mantendo-se um.
Não seja tolo e ouça o que mais velhos tem a dizer, eles percorrem este caminho à mais tempo que você. Mas não esqueça que a escolha é sempre sua.
O que fazer quando seu coração aponta para um lado e sua mente para outro?
A verdade será o guia do seu caminho, mas haverão dias que ela não será suficiente. Não exite em buscar dentro de si as respostas, permita-se andar mais devagar.
O destino muda o tempo todo, haverão momentos de bonança e momentos de aperto, permita-se ver a vida de um outro ângulo, deixe morrer aquilo que impede a sua caminhada.
Lembre-se dos seus pais e do que eles representam, mas não se prendam a quem eles foram e a quem eles desejam que você seja.
Talvez isso cause uma confusão na sua mente e você se sinta expulso do paraíso, mantenha a calma, retire suas vestes e cuide de suas feridas, não tenha medo de quem você é.
Mesmo bagunçado olhe para dentro, lembre da sua infância, da sua pureza e de tudo aquilo que você carrega no coração. Perdoe-se por aquilo que não pôde mudar e pelos erros que cometeu, é hora de viajar de novo.

8 de fev. de 2015

Sobre um amor que termina à meia noite.

Postado por AnaBaú às domingo, fevereiro 08, 2015 0 comentários
Ela encarava seus próprios olhos no espelho e ensaiava uma cara feliz. Segundos depois desistia e se jogava no sofá. A porta continuava trancada e a casa permanecia silenciosa e escura. Lá fora chovia e fazia frio e lá dentro ela suspirava, suspirava e suspirava, sentia-se sem vontade de viver e mal conseguia manter os olhos abertos.
Resolveu ligar o computador para ver se conseguia se animar, entrou em um chat de encontros, conversou com vários rapazes mas não sentiu interesse por nenhum, ela sentia-se feia mas não queria se arrumar, muito menos cogitava a ideia de abrir a porta.
Horas se passaram e ela continuava conversando e quando olhou o relógio viu o quanto ela havia desperdiçado de sua vida. Quando definitivamente resolveu sair já eram nove da noite. Encontrou um rapaz, viram-se pela webcam e marcaram um ponto de encontro.
Olhou-se no espelho, fingiu uma cara simpática, tentou encontrar uma roupa sexy que não a fizesse sentir frio. Optou por um vestido de manga longa e cortes irregulares, olhou para as pernas não depiladas à mostra, quis colocar uma meia calça, mas pensou que de qualquer maneira elas seriam retiradas mais tarde. Pintou um sorriso vermelho em sua cara, calçou suas sapatilhas e saiu, ela não sabia quem estaria esperando por ela, mas também não faria a menor diferença, ela não estava com vontade de nada;
Se aproximou do carro bordô, sorriu e recebeu um sorriso de volta. Entrou no carro, encontrou-o de bermuda e regata e perguntou sobre o frio. Ele riu, não acreditara que ela havia falado sério sobre estar com frio. Perguntou-lhe onde queria ir, e ela indicou um motel que ficava próximo.
Conversaram um pouco sobre quem eram, ele não abriu a porta do carro para ela, mas deixou que ela subisse as escadas primeiro e abriu a porta para ela entrar.
O quarto 10. Pra ela a lembrança de uma  outra noite memorável.
Ele trancou a porta e tirou os óculos e então ela o beijou. Em seguida empurrou-o para a cama e tirou sua camisa, perguntou do que ele gostava e riu quando ele disse que gostava de tudo.
- Tudo é muita coisa, disse ela.
Ele riu.
- Pra fazer tudo precisaríamos quatro, cinco, seis encontros, continuou ela.
- Hey, essa frase é minha - disse ele, rindo.
Beijaram-se, acariciaram-se, morderam-se, riram e tomaram banho juntos. Ele não comentou sobre suas pernas não depiladas, ele sequer se importava com isso. Ele também não se importou com as estrias espalhadas pela barriga dela e nem com as celulites. Amaram-se até a meia-noite, que é quando o conto se desfaz e a princesa volta para casa. Ela deixou os sapatos de cristais com ele para que ele volte. Ela acordou na manhã seguinte com o gosto dele no coração, ela sorriu ao se olhar no espelho.
As vezes amores aparecem e terminam à meia-noite, mas seus efeitos duram pra sempre.

4 de fev. de 2015

A milésima carta de amor.

Postado por AnaBaú às quarta-feira, fevereiro 04, 2015 0 comentários
Nunca escondi o amor que sinto por você, mas quando eu falava você sempre olhava na direção oposta.
Um dia você me olhou e disse que estava confundindo as coisas, que o amor que você poderia me ofertar era diferente do amor que eu esperava receber. Eu só esperava amor, sem títulos. Você não quis entender.
Mil cartas, mil tentativas de entregar esse amor de volta pra você. Esse amor é tão forte, tão real e ao mesmo tempo tão vazio. Que amor é esse que me aprisiona? Pesa no meu peito impedindo que eu caminhe pra longe de você.
Eu não sei, mas as veze sinto que deveria ir embora. Esquecer você e todo esse amor em um lixeiro longe de casa, para que você não pudesse encontrar o caminho de volta.
Não terminarei de escrever sobre você, porque cada palavra consome tudo o que sinto e aumenta aquilo que continua aqui.

3 de fev. de 2015

Sobre escolhas e cegueira.

Postado por AnaBaú às terça-feira, fevereiro 03, 2015 0 comentários

Existia há muitos anos atrás uma antiga tradição mágica que ao contrário das demais ficava localizada no centro da cidade. As pessoas que passavam em frente à sede ficavam ofuscadas com a magnificência da mesma, e aos poucos viajantes de todos os lugares do mundo desejavam morar lá.
Apenas um portão separava o mundo real do mundo mágico e o único capaz de decidir quem entraria ali era o mestre. O que ninguém sabia é que logo após o portão dormiam dois dragões e que para acessar o grande salão era necessário passar por eles. Os que estavam fora nunca saberiam disso pois, ao tentarem espiar pelo portão viam do outro lado tudo o que eles mais desejavam, a miragem criava exatamente o que estava guardado no coração de quem olhava.
O mestre escolhia à dedo quem teria acesso imediato ao salão e quem deveria passar pelos dragões. Então todos os sábados os portões eram abertos e os corajosos tinham acesso ao mundo mágico. Mal sabiam eles que nunca mais retornariam, uns porque ficavam completamente cegos com o que encontravam no salão, outros porque eram devorados pelos dragões.
- Sacrifícios são necessários - dizia o mestre e sorria.
Ano após ano, pessoas acreditaram que ao atravessarem os portões encontrariam tudo aquilo que desejaram, largaram família, emprego, casa, sonhos, pertences e arriscaram entrar no jardim, quando percebiam o que haviam deixado para trás a escolha já havia sido feita, não havia como retornar. 
Você deve estar se perguntando como eu sei disso, pois bem, muitas pessoas que eu amei escolheram atravessar o portão em busca de seus sonhos e eu nada pude fazer para impedir. Um dia, em um momento de desespero me aproximei do portão e antes que pudesse entrar me dei conta de que aqueles que amei nunca retornariam e que se eu entrasse por aquele portão eu também me perderia. 
Passei dias olhando através do portão e vendo as pessoas que amei na miragem, até que um dia eu decidi que partiria. Às vezes, os olhos do coração nos cegam e bebemos veneno esperando a cura. Muitas vezes eu pensei que poderia ter atravessado o portão e morrido com a ilusão de ter encontrado tudo o que sonhei, mas são as minhas desilusões que me lembram que eu continuo viva.
O mestre nunca olhou pra mim, mas eu sempre me perguntei como ele se sentia sabendo que mudaria a vida daquelas pessoas para sempre.

30 de jan. de 2015

Postado por AnaBaú às sexta-feira, janeiro 30, 2015 0 comentários
Onde estão os sentimentos profundos que tive por você? 
O seu corpo já não é suficiente para tocar meu coração. Os beijos e orgasmos se tornam vazios quando alcançados sem alma. Eu preciso sentir mais profundamente. Você vem vazio e acaba por esvaziar-me também. Você se vai e eu fico esperando até que você venha novamente, na esperança que possas me preencher. Ledo engano. Tu vens vazio novamente e rouba o resto de vida que havia em mim. E quando me dou conta não há mais nada de mim aqui e nem de você, se um dia houve, levou-o embora faz tempo e esqueceu de devolver-me. 
Aqui estou eu tentando recuperar tudo o que havia de bom em mim e você levou. Devolva-me minhas flores, devolva-me minha inocência, minha pureza e encantamento. Devolva-me a safadeza, a  criatividade, a manha. Devolva tudo aquilo que lhe dei e que nunca foi suficiente pra você.
Postado por AnaBaú às sexta-feira, janeiro 30, 2015 0 comentários
Deite-me na sua cama e tire minha roupa.
Toque meu corpo como se eu fosse uma delicada flor,
me segure como se eu fosse uma alma fugitiva.
Ata-me, ama-me,
Pegue a parte que mais lhe apetecer, mas não esqueça,
independente da parte (minha) que tenha,
ainda há uma mulher inteira que vive aqui (dentro, em mim).


Substituto do amor.

Postado por AnaBaú às sexta-feira, janeiro 30, 2015 0 comentários
Em uma noite de chuva encarei meus medos e resolvi me molhar, mesmo correndo o risco de ficar doente. Eu fechei os olhos e me entreguei à cada gota que tocou meu corpo, eu me entreguei aos corpos que me acolheram, eu me entreguei àquilo que sempre desejei e temi.
Eu quis experimentar uma parte de mim que estava esquecida, busquei então mais chuva, encantava-me por temporais, e queria sentir a eletricidade de um raio atravessando meu corpo fazendo-me tremer. Eu quis que outros corpos me acolhessem, eu quis sentir o gosto das frutas exóticas, eu quis conhecer novos territórios. E eu conheci, dia após dia, passo a passo, eu peguei minha mochila e me abandonei em casa. Andei por onde tive vontade, corri riscos, sofri alguns arranhões, mas eu pude ver o céu de uma maneira que ninguém mais viu. Eu pude tocar a face das estrelas, eu pude banhar-me à luz da lua, eu pude ser aquecida pelo mais brilhante sol.
Até que um dia as estrelas pareceram se afastar, a lua já não aparecia no céu e o sol já não aquecia. Hora de voltar pensei. Revivi as últimas paisagens até me encontrar novamente em casa, segura. Desde aquele dia observo a chuva pela janela, sem coragem de abrir o vidro. Mas isso não quer dizer que toda a viagem não valeu a pena. Eu nunca mais serei a mesma, afinal eu encarei meus medos, ao menos uma vez.
 

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