3 de fev. de 2015

Sobre escolhas e cegueira.

Postado por AnaBaú às terça-feira, fevereiro 03, 2015

Existia há muitos anos atrás uma antiga tradição mágica que ao contrário das demais ficava localizada no centro da cidade. As pessoas que passavam em frente à sede ficavam ofuscadas com a magnificência da mesma, e aos poucos viajantes de todos os lugares do mundo desejavam morar lá.
Apenas um portão separava o mundo real do mundo mágico e o único capaz de decidir quem entraria ali era o mestre. O que ninguém sabia é que logo após o portão dormiam dois dragões e que para acessar o grande salão era necessário passar por eles. Os que estavam fora nunca saberiam disso pois, ao tentarem espiar pelo portão viam do outro lado tudo o que eles mais desejavam, a miragem criava exatamente o que estava guardado no coração de quem olhava.
O mestre escolhia à dedo quem teria acesso imediato ao salão e quem deveria passar pelos dragões. Então todos os sábados os portões eram abertos e os corajosos tinham acesso ao mundo mágico. Mal sabiam eles que nunca mais retornariam, uns porque ficavam completamente cegos com o que encontravam no salão, outros porque eram devorados pelos dragões.
- Sacrifícios são necessários - dizia o mestre e sorria.
Ano após ano, pessoas acreditaram que ao atravessarem os portões encontrariam tudo aquilo que desejaram, largaram família, emprego, casa, sonhos, pertences e arriscaram entrar no jardim, quando percebiam o que haviam deixado para trás a escolha já havia sido feita, não havia como retornar. 
Você deve estar se perguntando como eu sei disso, pois bem, muitas pessoas que eu amei escolheram atravessar o portão em busca de seus sonhos e eu nada pude fazer para impedir. Um dia, em um momento de desespero me aproximei do portão e antes que pudesse entrar me dei conta de que aqueles que amei nunca retornariam e que se eu entrasse por aquele portão eu também me perderia. 
Passei dias olhando através do portão e vendo as pessoas que amei na miragem, até que um dia eu decidi que partiria. Às vezes, os olhos do coração nos cegam e bebemos veneno esperando a cura. Muitas vezes eu pensei que poderia ter atravessado o portão e morrido com a ilusão de ter encontrado tudo o que sonhei, mas são as minhas desilusões que me lembram que eu continuo viva.
O mestre nunca olhou pra mim, mas eu sempre me perguntei como ele se sentia sabendo que mudaria a vida daquelas pessoas para sempre.

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