Sinto falta dos seus passos, de quando vinha arrumar o cobertor sobre mim ou ver se eu estava dormindo já. Aquele 'durma bem" sussurrado, o beijo leve na bochecha, as estrelas cintilando pela janela.
O corpo quente, as meias pisando levemente no chão, o leite encima da mesa, a luz do sol, o novo dia, ninguém em casa, porta trancada, esperança que algo toque, chame ou apareça.
Não há mais cheirinho de café cedo, não há momento para sentar na mesa, não há mais risos, nem abraços, sequer olhares aparecem através dos espelhos. O fora está desaparecendo e só há restando o dentro. O dentro está se afogando, tentando sair.
A neve cobriu todos os passos que levam para casa, o sol já não aquece o coração e ninguém irá se importar se você estiver com frio, com fome, com medo. Agora só existe o dentro, e você ainda sonha com o cheirinho de café que não está em lugar nenhum.