2 de nov. de 2017

Carta aos velhos amigos

Postado por AnaBaú às quinta-feira, novembro 02, 2017
Perdoem-me por não enviar notícias por tanto tempo, sei que não há desculpas aceitáveis quando abandona-se amigos, porém vou lhes explicar o que houve durante esse tempo.
Após nosso último encontro fui tomada por uma sombra que levou-me para flertar com a morte. Acreditem, a morte pode ser mais sedutora do que qualquer um de nós juntos. Olhos profundos, hálito mentolado, roupas de uma escuridão tão profunda capaz de causar inveja a qualquer gótico suave. Confesso que resisti aos seus olhos, porém quando ela me tocou com sua promessa de libertação, quase a segui.
Dois passos à frente recordei-me de cada um de vocês e acreditem, quem precisa da companhia da morte quando se tem um vinho barato e todos vocês sentados no meio-fio?
Você se dá conta de como os seus amigos fazem falta quando você encontra coisas que seriam perfeitas para eles e quando vai correr para contar, se dá conta de que não há ninguém do outro lado. Mesmo com tantas possibilidades tecnológicas a solidão pode ser uma doença terrível, que faz questão de esfregar-se na sua cara para lhe provar que não há mais ninguém, além de você e quanto mais você insiste em esticar os dedos, apenas encontra o nada.
Absorvida pelas memórias e remorsos, fui consumida como alguém que se encontra no fim da vida. Senti novamente cada dor e cada cicatriz. E cada lágrima pareceu destroçar ainda mais o que restara de mim. Passei a evitar espelhos e reflexos, temia encontrar meus olhos apagados em algum canto e finalmente passei a evitar qualquer contato que não fosse com meus próprios pensamentos. E de repente não conseguia mais distinguir quem eu era do que estava havendo. Foi aí que a morte veio negociar uma rendição e vocês me salvaram.
E então tive que deixar de pensar em vocês para poder seguir, pois a dor de precisar de vocês e não tê-los era pior do que o flerte da morte. Hoje reencontrei a luz e novamente consigo dormir, porém ainda não recuperei-me o suficiente para vê-los. No entanto, peço que se puderem me perdoar, que resgatem suas melhores lembranças comigo, para então quando menos perceberem, eu estarei aí para criarmos lembranças melhores.



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